sexta-feira, 17 de outubro de 2008

IDENTIDADE E ESPAÇO: TERRITÓRIOS E FRONTEIRAS - TEXTO 1

OBS.: Este deflagra uma série de 3 TEXTOS.

Sobre POLÍTICA aguardem “texto 2”, e especificamente sobre ÉTICA, “texto 3”.



1. REFLETINDO ECONOMIAS PLAUSÍVEIS:

- ESPAÇO(S), TERRITÓRIOS, FRONTEIRAS: LENDO-OS COMO VERTICALIDADES E HORIZONTALIDADES.

- IDENTIDADE, IDENTIDADE e MASCULINIDADES, CRISES ECONÔMICAS; CAPITALI$MO, $ e FELICIDADE; O QUE É OU PODERIA SER HIERARQUIA?...


Assim como o fazem a estética e a ética, acredito que IDENTIDADE e INTIMIDADE são “tijolos” que ajudam a possibilitar a eterna reconstrução de valores referentes ao nosso inesgotável processo de humanização que parecem (às vezes) perdidos: honrar o Outro, a alteridade, como a si mesmo; compartilhar solidariedade; respeitar a Natureza, etc. Acredito que esses "tijolos", enquanto elaboram uma qualidade civilizatória plausível, mantêm uma inevitável conexão tanto com a Economia quanto com a Política.

Acredito que o complexo que chamamos ECONOMIA não conseguiria se manter alienado desses “tijolos”, desse processo, nem desses valores. Para pensar nesse complexo, é melhor pensar nos "tijolos", mesmo que dê um trabalho "hipercomplexo", como diria Edgar Morin.

Ao tentar me manter fiel às limitações de possibilidade de abordagem do assunto devido minha formação, buscarei comentá-lo como quem procura a cota de “subjetividade possível” em questões tão objetivas, baseada na formação que de fato tenho, procurando dados que parecem se conectar com as preocupações que acompanham tudo o que penso, a partir dessa minha formação. Levanto reflexões para quem goste de desenvolvê-las.

Acredito que desde que foi deflagrado o processo de construção do que passamos a chamar “moeda”, a pior face do conjunto de fenômenos que chamamos “patriarcalismo” funciona como uma espécie de “cunha”. “Cunha” que alimenta esse distanciamento alienante (vide, por favor, os textos anteriores especificamente sobre isso, no BLOG, que deixam claro não só várias definições, mas que patriarcalismo não é “privilégio masculino”).

Sobre a mais amena e “manjada” face desse mesmo conjunto (e nem por isso sendo o debate dela desimportante), comenta Virgínia Woolf em seu diário:

”A mulher precisa ter dinheiro e um teto todo seu se pretende mesmo escrever ficção; por isso não há poetisas na Inglaterra, mas muitas romancistas, pois - ao contrário da poesia - o romance pode ser escrito em meio à balbúrdia das crianças..." (Woolf, V.; 1953 /1972, pág. 126).

Acredito que ESPAÇO pode (e deve) ser “lido”, especialmente nas reflexões propostas aqui, como:

- “interno” - territórios das singulares subjetividades; estes, afinal, também dialogam com o conceito de ‘economia’;

- “externo” - mais complexo, já que pode supor desde o individual e privado território corporal, passar pelo território das escolhas individuais e /ou coletivas, chegando até os territórios públicos, tanto em suas topografias conceituais ou simbólicas (“Cidadania”, ”Nação”, por exemplo), quanto às político-geográficas (“País”, por exemplo).

Acredito - igualmente - que essa “leitura” é hipercomplexa: inevitavelmente multifacetada e simultânea (“lê-se” várias facetas dos dois “territórios” ao mesmo tempo).

Alguém lembra os motivos que levaram as primeiras moedas a ter um buraquinho no meio, exatamente no seu centro?... Se não lembra, vá pensando nisso enquanto lê; lá no final voltaremos ao assunto...

Pensando no que anda dizendo Habermas,

”Habermas aponta para três desdobramentos possíveis da crise social. Em primeiro lugar, uma ‘underclass’ cria tensões sociais a serem controladas por meios repressivos. Nos Estados Unidos, por exemplo, as prisões recebem 100.000 novas pessoas por ano, compondo uma população de 1,3 milhões, e absorvendo dos contribuintes 35 bilhões de dólares anuais. Os Estados Unidos gastam seis vezes mais com prisioneiros do que o Brasil com as Universidades Federais (Folha de São Paulo, 21 / 07 / 96). Em segundo lugar, a degradação social tende a se espalhar dentro e fora das cidades (e dentro e fora dos vínculos entre os indivíduos), permeando os poros de toda a sociedade. Por último, a segregação das minorias, privadas de voz reconhecida na esfera pública, acarreta a erosão da força integrativa da cidadania democrática”.. (Liszt Vieira, referindo - se a um texto de Habermas de 1995; 2001 p.91; parênteses meus).

levantemos algumas reflexões sobre as características essenciais de nosso universo econômico, e suas crises.

Numa tentativa de fazer mesmo que um tosco e prático resumo das principais etapas da história do sistema capitalista, que - acredito - será suficiente para deixar claro antes o seu próprio esgarçamento, que os esgarçamentos provocados por ele, vemos quatro momentos:

1.Aquele momento em que uma mercadoria é trocada por outra mercadoria;

2.Aquele em que a mercadoria é trocada por um símbolo (dinheiro);

3.Aquele em que a produção da mercadoria é trocada por salário(momento que institui:

- os atores sociais históricos “operário” e “patrão”, a “burguesia” e o “proletariado”, as “classes”;

- a mais valia, a teoria da exploração onde a quantidade de salário jamais equivale ao valor real do trabalho;

- a alienação, que distancia o produtor de seu produto, de sua criação,(o que instituiu, mais tarde, a proposta marxista tradicional de “resolução pela luta de classes”);

- o fetichismo, onde os produtos ganham valor, “ganham vida”;

- a reificação, onde as pessoas que produzem e/ou consomem os produtos parecem depender dos produtos que portam para ter ou não valor pessoal; onde a maioria que se torne não-consumidora de “coisas de valor”, “ganha a morte”; passa a “ser nada” ou quase- nada) ;

4.Aquele em que estamos, no qual:

- Paira no ar uma “Economia-de-mentirinha”, que não gera novos produtos“reais”, novos serviços “reais”, novos empregos “reais”, renovação da circulação de um capital palpável, “visível”, “vivo”, nas mãos de produtores vivos e autônomos, nas mãos de consumidores vivos e autônomos; paira no ar uma Economia fraudulenta que “ama e pede” a corrupção...

- tudo e todas as pessoas, de alguma maneira, parecem se tornar mercadorias em potencial, e o próprio dinheiro se torna “A Mercadoria de Primeira”, instituindo uma espécie de “Mercado Autônomo”, nas mãos de quem viramos fantoches em potencial do “espetáculo de péssima qualidade chamado especulação”, como se perdêssemos ao longo dele até o status de atores sociais (históricos ou não);

- quanto a alienação, a mercadoria é tornada puro hieróglifo social;

- o fetichismo (doação de “vida” aos produtos) e a reificação

(desqualificação “mortífera” dos não - consumidores) atingem seu ápice,instituindo uma “declaração de morte” irreversível... ao próprio capitalismo!

Com a globalização, passamos, planetariamente, a caminhar numa corda-bamba cada vez mais arriscada, sem termos pedido por isso...

- O desenvolvimento do capitalismo, nesta linha (vertical e canibal), vai tornando impossível tanto a produção, (é difícil produzir dinheiro inesgotavelmente), quanto o consumo (nada tem sido produzido” tão compulsivamente quanto o contingente de ‘não-consumidores”, o que faz com que os produtos tendam a se tornar objetos sem destinatários), num“futuro próximo”. Tão próximo, que parece hoje...

É “O MUNDO” o “patrimônio” de meia duzia de psicopatas especuladores?

Para utilizarmos os conceitos que rodeiam “PATRIMONIALISMO” precisamos fazer uma pausa para lembrar a inevitável conexão do mesmo com “PATRIARCALISMO”, conexão que Max Weber, entre outros, já fazia, e o nosso Sergio Buarque de Hollanda relembrou. Atuações PATRIARCALISTAS não são privilégio de HOMENS, mas a história da construção desses conceitos mostra que foram criados numa fôrma esculpida prioritariamente pelo contingente masculino, SIM, e à imagem e semelhança da construção de sua (ainda tão pouco debatida) IDENTIDADE... Pausa esta que tem apenas a função de lembrar um dado histórico e conceitual, que precisa estar nas entrelinhas de nossas reflexões até o final do texto, para que este tenha sentido.

O sociólogo marxista alemão Robert Kurz (1998) faz uma releitura do dueto fetichismo/reificação de Karl Marx. Deixa claro, em sua leitura crítica, inspirada na deflagrada já em 1958 brilhantemente por Hannah Arendt (aluna de Jaspers, por sua vez aluno do próprio Hegel), que não é mais a luta de classes (classes asfixiadas por uma cortina de fumaça freneticamente consumista e coisificadora) que vai mudar o Homem, a Economia, o Mundo, a Vida.

Para ele (como em outras palavras para ela), o calcanhar de Aquiles para gerar mudanças consistentes contra o jugo desse dueto de verdadeiros “vilões” (fetichismo/reificação) aparecerá na mesma medida em que dos "humanos - fantoches" voltem a emergir "humanos - atores sociais"; novos atores sociais.

Mas esse movimento, esse “parto” de novos atores sociais, não é vertical; não tem como se dar “de cima para baixo”, nem “de baixo para cima”. Ele se tece; ele é horizontal, contrariando a tendência à verticalidade do universo econômico vigente.

As conseqüências dessa lenta, mas inevitável tessitura, SIM, costuma atingir verticalidades.

Atinge o “Mercado”, que se julgue “Autônomo” (supostamente “independente” de movimentos de diálogo com o Estado ou com as representações populares). Essa aparente “autonomia” reproduz na verdade o mesmo “caráter” que - em indivíduos - nos leva a chamá-los eventualmente de “pessoas autocentradas”, “narcisistas”, “fixadas em seus próprios umbigos”. E o pior: faz-nos chamá-los de irresponsáveis. Fraudulenta é essa “autonomia”, como é fraudulenta a Economia que parece acontecer dentro dela.

Atinge o “Estado”, instituições não comerciais em geral, e as demagógicas representações populistas (e não populares) que se julguem possuidores de algum “Discurso Verdadeiro” (supostamente “donos-da-verdade”, donos de algum suposto “código impecável” de encaminhamento da Vida).

“...A gente não quer só dinheiro; a gente quer dinheiro e felicidade...”

Lembra da rockinho simpático dos “Titãs”? Mas...Não parecemos estar rodeados por aqueles que identificam “ter Felicidade” unicamente com Ter Dinheiro”?!...

No ESPAÇO HUMANO da Economia, a “corrida” pelas fronteiras que definem os territórios dos diversos conceitos de Felicidade, é disputada tanto pelos ainda obedientes “fantoches”, quanto pelos (já) emergentes em processo de retorno à humanização e de real autonomia autoral de suas vidas: os novos atores sociais. Sim! Eles existem e resistem! O sociólogo Alain Tourraine não só “aposta” neles para muitas providências humanistas que urgem, como pontua que os mais interessantes são os “femininos” (não necessariamente “as mulheres”).

A eterna busca da tal da Felicidade é da ordem do Humano; “ponto”!

Expandindo nossas reflexões...: De fato, disse Sigmund Freud, o Moderno pensador, que o homem, ao ingressar na Modernidade, abria mão de uma parcela de Felicidade, em troca de estabilidade, equilíbrio:

"Em incontáveis ocasiões se questionou o objetivo que teria a vida humana, sem que jamais se tenha dado resposta satisfatória, e talvez nem exista tal resposta”... ”Abandonemos por isso a questão precedente, e encaremos esta outra, mais modesta: que finalidade e propósitos de vida expressam os homens em sua própria conduta; o que esperam da vida, o que pretendem alcançar com ela? É difícil se equivocar na resposta: aspiram à felicidade, querem conseguir ser felizes, não querem deixar de sê - lo. Esta aspiração tem duas faces: uma finalidade positiva e uma negativa; por um lado, evitar a dor e o desprazer; por outro, experimentar intensas sensações prezerosas. Em sentido restrito, o termo ‘felicidade’ só se aplica à segunda finalidade... ... Toda persistência de uma situação gerada pelo princípio do prazer proporciona apenas uma sensação de tíbio bem - estar, pois nossa disposição não nos permite gozar intensamente a não ser o contraste, mas só numa medida muito pequena o estável"... (Freud, S.; 1930 / 1968, p.10 e 11).

Já Zigmunt Bauman, o Pós-Moderno pensador, faz uma comparação, dizendo que o homem pós-moderno preferiu abrir mão da estabilidade e mesmo do equilíbrio, em troca de fragmentos de Felicidade:

..."Você ganha alguma coisa mas, habitualmente, perde em troca alguma coisa: partiu daí a mensagem de Freud"... ..."Os homens e mulheres pós-modernos trocaram um quinhão de suas possibilidades de segurança por um quinhão de felicidade... ...Os mal-estares da Modernidade provinham de uma espécie de segurança que tolerava uma liberdade pequena demais na busca da felicidade individual. Os mal - estares da Pós-Modernidade provém de uma espécie de liberdade de procura do prazer que tolera uma segurança individual pequena demais... ....A civilização se constrói sobre uma renúncia ao instinto... ...Especialmente - assim Freud nos diz - a civilização (leia - se : A Modernidade) impõe grandes sacrifícios à sexualidade e à agressividade do homem... ...Em ambos os casos, a felicidade soçobra"...(Bauman, Z.;1998, p.7 e 10).

Para que reflitamos ainda mais livremente sobre a flutuação do conceito de felicidade, e para que não reste dúvida sobre a pertinência de falar dela quando se quer falar da face humana da Economia e riscos de reificação, observemos, após o dueto de Sigmund e Zygmunt, a descrição dada por uma “Simone” sobre “outra” Simone:

Simone de Beauvoir (1968) descreve assim seu encontro com Simone Weil:

..."Intrigava - me por causa de sua grande reputação de inteligência e seu modo estranho de vestir - se: deambulava pelo pátio da Sorbornne escoltada por um bando de antigos alunos de Alain; trazia sempre, no bolso de seu casaco, um número de Libres Propos e, no outro, um do Humanité. A fome devastara a China e tinham - me contado que, ao saber dessa desgraça, ela soluçara: essas lágrimas, mais que seus dons filosóficos, forçaram meu respeito. Eu invejava um coração capaz de bater através do universo inteiro. Consegui um dia chegar - me a ela. Não sei mais como a conversa se iniciou; declarou - me em tom cortante que somente uma coisa contava hoje na terra: a revolução que daria de comer a todos. Eu atalhei de modo não menos peremptório, que o problema não consistia em fazer a felicidade dos homens, e sim em dar sentido à vida deles. Ela mediu - me dos pés a cabeça: - ‘ Bem se vê que nunca teve fome’, disse. Nossas relações não foram além. Compreendi que me catalogara: ‘ Uma pequeno - burguesa espiritualista‘, e irritei - me como me irritava outrora, quando Mlle. Litt explicava meus gostos pelo meu infantilismo. Acreditava - me liberta de minha classe: não desejava ser outra coisa que não eu ..." (Beauvoir, S. de ; 1968, p.215 e 216).

As primeiras relações horizontais surgem na intimidade, como as verticais. Mas a especulação teórica sobre sua real importância na construção/repercussão de relações horizontais no “universo Macro” é recente.

Curiosamente, durante muitos anos, as relações verticais (pais/filhos, adultos/crianças, senhor/escravo) foram privilegiadas, “hierarquizadas” como “mais importantes”.

As relações horizontais (fraternas consangüíneas ou não, amizades, coleguismo, etc), foram relegadas a um exótico “segundo plano hierárquico” na construção de conceitos diversos.

Irmãos, colegas - vizinhos, colegas de estudos, amigos, são - evidentemente - os guias ideais no caminho da “fraternidade” a “Fraternidade”; ao Outro.

É com eles que construímos nossos leques pessoais e públicos que vão da rivalidade à solidariedade, do egocentrismo narcísico ao culto da alteridade.

O encontro das duas Simones ilustra - também isso - bastante bem, enquanto debate “Felicidade”.

De um lado Simone Weil, a "Virgem Vermelha" que trabalhou numa fábrica, lutou contra o fascismo na Espanha, brigou com os católicos franceses que apoiaram Hitler, e rechaçou o comunismo soviético ao descobrir os expurgos de Stalin, convicta de que dentro de pouco tempo os revolucionários autênticos seriam reconhecidos, porque são os únicos que não falam de revoluções; acabou flertando com Deus, judia e cristã fora dos Templos (pois na Instituição continuava a não acreditar); morreu de fome, negando-se a comer mais que a ração diária de prisioneiros de campos de concentração, mesmo sabendo estar tuberculosa.

Moderna; logo romântica? Feliz?

Talvez satisfeita em parte, com o prazer da convicção.

Do outro, Simone de Beauvoir, a atéia pós-catolicismo, atrelada à metafísica e à moral, resolutamente tão pacifista quanto indignada, cuja maior luta foi por tornar-se ela mesma; viveu e descreveu (para alguns corajosa, para outros morbidamente) tudo que pôde transitar, perder e refletir.

Trágica; logo Pós-Moderna? Feliz?

Talvez satisfeita em parte, com o sentido que transitar pela reflexão do ganhar e do perder traz.

Momentos felizes são apenas (sempre foram apenas) fenômeno episódico.

A satisfação parcial que as buscas (dependentes da IDENTIDADE) individuais e coletivas vão construindo, só poderão ser de fato avaliadas quando for possível a comunicação com o próprio Hades!

A casta menina Weil se preocupa com o instinto que exige a satisfação da fome, e com a Atenção (ao Mundo, ao Outro, à Vida).

A menina de Beauvoir jamais sacrificaria sua sexualidade, e conduziu bastante bem sua agressividade em várias ocasiões.

A menina Weil, (“Betinho precoce”?), vive e morre pelo direito (pela Atenção à?) da fome alheia saciada.

A menina de Beauvoir, (“Arnaldo Antunes avant La lettre”?), quer saber do Ser Humano: - "Você tem fome de quê?..."

A adulta Weil, sem abrir mão da menina que tinha sido, passa a ter também fome de Deus (de Sentido, do transcendente), contanto que “Ele” não dependa de fraudes institucionais, Templos, etc.

A adulta de Beauvoir, sem abrir mão da menina que tinha sido, passa ver o Sentido do corpo (da Natureza), do homem que pode Pensar enquanto aqui está corporificado, “e fim-de-papo”, pois para ela isso basta.

As meninas não voltaram a dialogar: às adultas não sobrou tempo para o diálogo, mas suas trajetórias dialogaram com seus próprios conflitos, e “desfilam seus diálogos aqui, para ampliar nossas próprias reflexões.

A Fome (além de ser o fenômeno medonho que é em si) ainda é a melhor síntese metafórica para as conseqüências das questões econômicas que este texto busca pensar. Basta contemplarmos uma foto de uma menina refugiada africana, ou a do cadáver de um bebê afegão, ou as de nossas próprias crianças - que a Pastoral da Criança tenta desesperadamente pesar e salvar da desnutrição - para verificarmos que uma forte dose de "per- versão" da agressividade é (supostamente) sacrificada em nome da civilização.

Agressividade recalcada que acaba exibindo a barbárie: transforma pessoas em coisas, que podem (já que “são coisas”) ser deixadas sem comer. Pois o que é reprimido se per-verte (verte para lugar inadequado); a agressividade, inclusive.

Nossos (supostos) "racionais excludentes", crêem ter decretado "que só gastar é nobre", e que a moeda (além de ser "produto" suficiente) é coisa/símbolo esvaziado de Sentido, prioritária ao que é humano: acompanhamos isso na prática nas últimas notícias: Estado e Mercado, na emergência da crise, “salvam” a Moeda; não os humanos habitantes do Planeta! E, mesmo vendo as consequências à sua volta, parecem conseguir se sentir extremamente “civilizados”! Má fé? Psicopatia?

Tratado assim, agindo assim, o Mercado está privado de Sentido.

O Estado o segue: aqueles que se dizem Estadistas abrem mão do debate sobre liberdade, ética, justiça, verdade, responsabilidade, em nome da lucrativa obediência a tecnocratas, empresários e banqueiros, que por sua vez também não tem olhos para esses temas; e não têm olhos para o Sentido da moeda ou para a finalidade original de seu trãnsito entre seres ditos humanos. Assim como o pensador Edgar Morin, muitos já acreditam em UTOPIAS PLAUSÍVEIS que revertam muito de tudo isso; mas carecemos, também, ainda, de ALTERNÂNCIA DE PODER para que suas vozes ecoem, acompanhadas pelo côro dos NOVOS ATORES SOCIAIS (“femininos” ou não).

Em tempo: as utopias de Simone Weil (bem distantes do umbigo dela, aliás) também foram registradas em sua escrita:

...”A única possibilidade de salvação estaria numa cooperação metódica de todos, fortes e fracos, aspirando a uma descentralização progressiva da vida social; mas o absurdo de uma idéia como essa salta imediatamente aos olhos. Impossível imaginar tal cooperação mesmo em sonho, dentro de uma civilização que se apoia na rivalidade, na luta, na guerra”...(Weil , S.;1940 , p.303 texto avulso). O poeta produz o belo pela atenção fixada no real. Do mesmo modo, o ato do amor. Saber que esse homem, que tem fome e sede, existe realmente tanto quanto eu - isso basta, o resto vem por si.
Os valores autênticos e puros de verdadeiro, de belo e de bem, na atividade de um ser humano, se produzem por um só e mesmo ato, uma certa aplicação ao objeto da plenitude da atenção"....
(Weil, S.1996; págs. 455 e 456 do livro org. Ecléa Bosi, Ed. Paz e Terra).

Mesmo a Academia - infelizmente - não fica atrás, e frequentemente imita o pior do Estado e do Mercado. A subversiva (e saudável) produção criativa (e democrática) do Pensamento (que seria providencialmente saneadora), é gradativa e assustadoramente abandonada em troca da vaidosa, estéril e competitiva exibição de “competência” em (tolas?) regras para burocratização da escrita que assumem - como se isso fosse um valor positivo! - um tibiamente justificado elogio fascista da padronização, (que deixaria Goebels realizado), e/ou de (fútil?) retórica vazia.

Regras e burocracias elitistas, que “recortam” a seleção de uma rala camada de “eleitos” a se manifestar.

Um manuscrito, por exemplo, seria - a princípio - rejeitado, na medida em que as normas e burocratizações se destinam a textos “datilografados ou digitados”, quando - aliás - uma das discussões contemporâneas sobre as faces da exclusão se refere à “exclusão digital ou internética”, como tem sido visto desde as reuniões do “Rio + 10” e/ou nos Fóruns Sociais. A beleza de um manuscrito, que traz a singularidade identitária de seu autor lindamente “desenhada” no papel seria, e é, sumariamente ignorada.

Felizmente contamos com alguns (heróicos?) transgressores aqui e acolá, como o Professor Doutor em Literatura e escritor gaúcho Luiz Antonio de Assis Brasil, que conquistou, na Academia gaúcha, o direito de apresentar como tese de Doutorado, o excelente e premiado romance “Cães da Província” (1987), abrindo um saudável precedente.

Já o Professor de História da Cultura da USP Nicolau Sevcenko em 2003 resenhou o livro “Instintos acadêmicos” da Professora de Língua Inglesa Norte Americana de Harvard, Marjorie Garber (Editora da UERJ, 2003), para o Caderno Mais! Do jornal Folha de São Paulo.

Ele demonstra ficar impressionado com o otimismo que o trabalho demonstra. Faz o elogio do que ela chama de “os instintos acadêmicos”, desfrutados por todo aquele que compartilhou deste convívio. A autora chama de “libido disciplinar” o fluxo das energias criativas que dão viço e vigor aos debates, à competição - (não “rivalidade”) - entre os diversos campos de conhecimento, como se tudo isso pulsasse sob o embalo de um “erotismo das idéias”.

Quem lucra? A Cultura, o Pensamento; a partir deles, todos nós.

A inquietação, o inconformismo, a alteridade desejável, o desconhecido desejável, a possibilidade desejável de transformação, tornariam a Universidade um dos pólos dinâmicos mais ricos do momento atual, onde a Universidade gozasse da razoável autonomia econômica, como a que conquistou (aparentemente) entre (ao menos) as instituições de elite dos Estados Unidos.

As dimensões promotoras de “tensões libidinais” na vida acadêmica, seriam:

- A zona de atrito entre as fronteiras da Academia e as demais instituições e agentes culturais sociais.

- As disputas entre as disciplinas, onde umas cobiçariam os conceitos, os métodos, os rigores e os desembaraços das outras.

- As disputas de linguagem, a elaboração de jargões e códigos disciplinares fechados, em paralelo a desejos (em utópica plausibilidade?) de autenticidade.

Enquanto o resenhista reproduz um fragmento do livro onde a autora afirma:

...”Lecionar e escrever numa universidade é trabalho para otimistas e idealistas, na tentativa de dar forma ao mundo”... (Garber, M., 2003 citada por Sevcenko, N., 2003)

afirma ele - (brasileiro como eu, mas ao contrário de mim, um pessimista) -

...”Não mais, querida professora, ao menos não mais em tempos e recantos que insistem em permanecer frígidos, estéreis e obscuros”... (Sevcenko, N. 2003; Coleção Caderno Mais!).

No momento em que fantoches estudantes voltarem a caracterizar o coletivo que pouco tempo atrás chamávamos ator social Estudante, e este voltar a ganhar vitalidade, (o que é plausível, porque não?!) essa aparente permanência do Professor Nicolau se romperá, como crê a mestra norte americana; o instinto acadêmico, o erotismo das idéias estão por aí, continuam por aí!

Aliás, aí encontramos também o melhor dos exemplos dos riscos de surgir, disfarçada, a face tanática da horizontalidade. Duvidosamente conduzida na esterilidade do elogio fascista à padronização, discursada sob sofismas pró suposta “democratização”, supostamente distribuída entre eleitos, como (relembro) deixaria Goebels exultante... Quem já esqueceu a sofisticada construção da estética veiculada pelo III Reich em seus impecáveis uniformes e filmes? Nem sempre a “democratização da “padronização”- mesmo que de fato BELA na aparência - alardeia o desejo da maioria, ou desejos de fato ERÓTICOS, de vida, para a Vida. Nem sempre uma suposta “democratização” de supostos saberes alardeia um MÉRITO legítimo...

Mérito não “se distribui”; mérito se conquista; alguns conquistam, outros não, e isso não precisa ser sinônimo de exclusão. Já a “distribuição” caracteriza mero populismo...

Felizmente o projeto racional excludente é um conjunto de intenções destinado por si próprio à frustração, à falência, pois a “MERITOCRACIA” continua a pontilhar a vida com seus pontos de triunfo raros, mas luminosos. As crianças continuam a nascer, as mulheres (e um número cada vez maior de homens) continuam a “desobedecer” (dizer “não” ao papel de fantoche), os poetas continuam a metaforizar, e muitos outros (e outras) autores (as) e anônimos(as) eroticamente talentosos(as), estão vivos e produtivos, trançando cada vez melhor a filosofia, a psicologia, a sociologia , etc. , numa rede profícua de “differance derridariana”: estão, lenta e gradualmente, ganhando a luta do senso crítico contra o senso comum. Nossos trinetos vão lidar com seus Mal-Estares, e sempre alguma Boa Nova triunfará e seguirá ao "the end" das tragédias, pessoais e coletivas. Triunfos sobre o senso comum também são episódios plausíveis. A Tragédia foi criada para ser didática, afinal, e como mereceria a adjetivação “sagrada”, deveria ter sempre seu nome escrito com “T” maiúsculo. É poder percebê-la (mesmo que metaforicamente) que traz à luz a consciência de que a satisfação idealizada só existe nos contos-de-fada; mas, que as plausíveis existem.

Reavaliações agora não faltam, abundam.

..."Sem dúvida: liberdade sem segurança não assegura mais firmemente uma provisão de felicidade do que segurança sem liberdade. Uma disposição diferente das questões humanas não é necessariamente um passo adiante no caminho da maior felicidade: só parece ser tal no momento em que se está fazendo. A reavaliação de todos os valores é um momento feliz, estimulante, mas os valores reavaliados não garantem necessariamente um estado de satisfação".. (Bauman, Z; 1998, p.10).

Logo, a consciência da impossibilidade de satisfação tende a aprofundar e a se "socializar", deixando de ser (como nunca antes) "privilégio" das cabeças (supostamente) "bem - pensantes" que o “ensinavam aos ‘ignorantes’ nos degraus abaixo”, para ser - também - tecida numa rede horizontal. A melhor distribuição (meritória) do "privilegiado acesso” a essa consciência não é também uma questão econômica? O Saber (seja acadêmico ou autônomo e reflexivo) é um “troféu negociável”, ou uma experiência à qual todos deveriam ter acesso, não esquecendo que a justa “meritocracia” dos que se destacam deveria respeitada e aproveitada?

Não nos iludamos com folhinhas, calendários, ou relatórios: nossos tempos "os relativisaram". Há pessoas que “se adiantam” no tempo de pensar as coisas, de pensar o Mundo, como certos artistas, por exemplo. Outras, que se mantém até andando para trás, como - frequentemente - uma grande parte da chamada “esquerda” brasileira, por exemplo.

Por isso há nomenclaturas cujo significado é sempre o mesmo, e outras cujo significado vai ficando cada vez mais complexo; por exemplo, “ESTRANHO”.

O primeiro "bem - pensante" professor e editor responsável pela publicação da obra Qorposantiana, em pleno 1980, classifica o professor de literatura e dramaturgo de vanguarda gaúcho Qorpo Santo literalmente como... “ESTRANHO”!... (Me recuso a dar “Ibope” a quem não merece, citando o nome deste “professor”; quem quiser, que verifique a quem me refiro; está no livro dele publicado pela Funarte há anos atrás...). O brilhante Qorpo Santo, que dá a uma personagem do século XIX o nome de ‘Planeta’, que discute o teor democrático do Saber contrapondo - o à Barbárie, que já fala das relações de gênero, incluindo no debate delas a questão da suposta masculinidade de Deus:

...’Planeta: “Deus não é; nem pode ser bárbaro!..." ..."Será que para termos ciência não devamos tê-la? Ilusão! Tantos tem uma e outra cousa! ...Logo este mundo é incompreensível! E direi mais: é um enredo em que todos vivem e de que só a morte os safa ! É um mistério que ninguém decifra..." ..."Mas também o que é fora de contestação é que o gozo das mulheres me tem trazido inúmeros incômodos; e a falta delas não pequeno, senão maior número! Agora pergunto : convém tê-las; gozá-las; ou desprezá - las? Eu queria pedir... ou dizer: responda - me Deus , ou o Diabo. A este tempo ouvi , e ainda estou ouvindo: desprezá - las ; desprezá - las ; desprezá - las. Essa voz é quase sumida; quase extinta; mas é de homem ou de ente masculino..."’ (Santo, Q.; 1866 /1980, p.310 , 311 e 313).

Classificando-o meramente como “Estranho”, este professor de quem não digo o nome repete, reproduz, na segunda metade do século XX - curiosamente - o que a Academia já havia feito com Qorpo Santo no século XIX: esta, ao invés de honrá - lo como artista ilustre que merecia ser no mínimo alardeado, permitiu, se omitindo, que ele fosse internado como “louco”, sendo necessário que os próprios psiquiatras que o receberam o atestassem publicamente “são”!.... Logo, desqualifica-o excluindo-o de sua pura “meritocracia”.

Voltemos a Bauman, Z.(1998) um teórico preocupado com a mal-intensionada e frequente “criação de estranhos” (dos simplesmente convencionados como ‘esquisitos’por distinções idiossincráticas, aos miseráveis, aos desempregados, aos imigrantes e outros preconceituosamente excluidos em geral) , que resume ainda (sempre reportando as próprias palavras às palavras de S. Freud nos parênteses) o que seriam "cultura", "civilização", "modernidade", re-introduzindo uma temática que permeia toda esta série de 3 textos que aqui deflagro:

..."É mais ou menos beleza (" ...essa coisa inútil que esperamos ser valorizada pela civilização...”), limpeza (“...a sujeira de qualquer espécie parece-nos incompatível com a civilização...") e ordem ("...ordem é uma espécie de compulsão à repetição que , quando um regulamento foi definitivamente estabelecido , decide quando , onde , e como uma coisa deve ser feita, de modo que em toda circunstância semelhante não haja hesitação ou indecisão...")...". (Bauman , Z . , citando Freud, S. ; 1998 , p.7 e 8).

Convenhamos: sexualidade e agressividade foram (e ainda são!) tratadas como "feias", "sujas" e "caóticas”. Arriscaria acrescentar “perigosas” e, consequentemente ”ESTRANHAS” aos olhos do perigoso e limitador SENSO COMUM.

Não se pode falar de ECONOMIA sem pensar nelas, e em nosso trânsito cotidiano entre nossos ESPAÇOS interno e externo.

Aparentemente a sexualidade tem ganhado continência psicossocial gradativa, e com isso vem “se embelezando", “se organizando"; logo, ameaçando menos, e se exibindo mais. Mas esta continência, isto é, este acolhimento das questões sobre a sexualidade pela sociedade é, ainda, dúbia.

ORA, é legítima, respeitadora de desejos mútuos e consentidos e criativa (filha de Eros), com Sentido: neste caso, tem valor. ORA, é invasora, autoritariamente tirana e destrutiva (filha de Tânatos), esvaziada de Sentido: neste caso, tem custo, ou mesmo preço.

No primeiro caso, a sexualidade fala por si mesma, se expressa, ensina, proporciona prazer (episódico que seja), e colabora não só na tessitura do amor pessoal, mas também na da solidariedade coletiva. Continência que gera tessitura vem de uma movimentação horizontal que no caso é legítimo, pois sequer exige “padronizações” fraudulentas.

No segundo, é fetiche silente, fazendo apenas dinheiro circular e pessoas virarem (verticalmente?) produtos, "grifes". Logo, coisas - inclusive os seus "consumidores". É bom observar que NÃO estou me referindo moralmente à prostituição ou à pornografia enquanto profissões e entretenimentos escolhida por adultos donos de seus corpos. Poderia aproveitar até para lembrar o báfáfá gerado pelo recente discurso e texto do ator Pedro Cardoso: o báfáfá exibe exatamente os dois casos acima; se não existissem os dois, ele nem teria acontecido... Continência para a sexualidade também há aí; a sociedade convive com o descrito no segundo caso, também; mas nada é tecido; a verticalidade e um tom fraudulento nas comunicações preponderam.

a agressividade tem maior dificuldade em ter construído seu espaço (individual e social) de continência. Muitos psicólogos e psicanalistas envolvidos com a psicologia social como Edward Whitmont (1982), William Reich (1987) e / ou J. L. Moreno (lembrado e citado por outro estudioso das masculinidades, Luiz Cushnir, em 1992) por exemplo, assinalaram - ao longo de sua obra - a qualidade e a importância da agressividade não per-vertida no convívio humano.

É graças à "agressividade erótica" que somos espontâneos e expressamos indignação, ou "lutamos por”.

Espontaneidade, indignação legítima e "lutas por" não são exatamente coisas que agradem hegemonias, classes e/ou grupos dominantes, conservadores, que fazem tudo que podem para proibi-la, calá-la, mascará-la. Preferem - e estimulam - a verticalidade da agressividade tanática, que vai acabar (claro!) sendo reprimida, e aí per-vertida. Como na sexualidade, ESTÁ POSTA, como se todos estivessem per-vertidamente “autorizados a lutar contra".

A per-vertida agressividade tanática impera, enquanto que espontaneidade, indignação legítima e “lutas por” vão sendo desqualificadas, desvalorizadas. Mascarada, ela se mantém na mais destrutiva das formas: "per-vertida", ou vertida (posto que está posta) inadequadamente: na fome, na miséria, na violência urbana, na guerra, no espantoso e nefasto movimento filicida mundial, e - é claro - no silencioso processo de criação e anulação de "estranhos", onde basta ser o "Outro" para que se corra o risco de se tornar " estranho", " fantoche", " coisa", cadáver.

Hegemonias, classes e / ou grupos dominantes, conservadores, são os donos e administradores do comércio de armas, afinal.

Das guerras, do terrorismo, da criminalidade, depende seu (vertical e tanático) lucro. Como na sexualidade tanática, sentem - se donos dos corpos alheios, da mesma forma que das armas, como se ambos fossem...coisas!... Logo, seu lucro depende do filicídio, que - armado - está prioritária e comprovadamente direcionado para os meninos, para as crianças e jovens do sexo masculino (vide, por favor, textos anteriores do BLOG).

Felizmente a importância do inconsciente e da subjetividade não faz mais o deleite apenas dos psicanalistas. Sigmund Freud não modificou a ciência, e sim o próprio ser humano em si: tornou - o, além de pensante de si mesmo, desbravador e dono de um novo e vasto Universo, o Inconsciente, até então desconhecido, que depende apenas das “caravelas da reflexão” para ser “colonizado”...

Jung, C. Gustav contribuiu com o conceito do inconsciente coletivo. Isso veio a ser somado a conseqüentes desenvolvimentos do pensamento e interdisciplinaridades, e hoje - num processo que não cabe descrever aqui - a sociologia pode, quando necessário, se apoiar no inconsciente e na subjetividade sem pudor, incluindo - os na avaliação dos fenômenos sociais e/ou psicossociais, indo bem além do que já sonhava Max Weber...

Zigmunt Bauman o filósofo apoiador da sociologia contemporânea, e sociólogos contemporâneos - como Anthony Giddens, Manuel Castells ou Stuart Hall - não buscam Freud e os demais que desenvolveram suas propostas, nem se dedicam a estudar “Identidade”, ingenuamente.

O Mal - Estar é claro e nítido; atravessa o tempo, desafiante.

No filme "Amores Brutos", uma personagem feminina diz que sua avó (outra personagem feminina), contava recorrentemente uma piada:

"- Se você quer fazer Deus rir, conte-lhe seus planos"...

Entre as tragédias (emissárias maiores do tema do Destino) “Édipo” tem sido privilegiado enquanto metáfora múltipla; mas, “Antígona” traz o tema da Lei X a Justiça, através da história do relacionamento competitivo sim, (o que difere da per-vertida rivalidade), mas piedoso, leal e afetuoso entre irmãos, os filhos de Édipo. Ao contrário da história de (apenas) rivalidade, inveja e deslealdade (que encontramos no mito de “Caim e Abel”), em “Antígona” vemos a devoção piedosa e fraternal sendo honrada a qualquer preço, colocando as hierarquias verticais do Destino e do Estado, e a Lei (não necessariamente justa) em cheque.

Se Bauman lembra que:

..."Qualquer valor só é um valor (como Georg Simmel, há muito, observou) graças à perda de outros valores, que se tem de sofrer a fim de obtê-lo. Entretanto, você precisa mais do que mais falta. Os esplendores da liberdade estão em seu ponto mais brilhante quando a liberdade é sacrificada no altar da segurança. Quando é a vez da segurança ser sacrificada no templo da liberdade individual, ela furta muito do brilho da antiga vítima. Se obscuros e monótonos dias assombraram os que procuravam segurança, noites insones são a desgraça dos livres"... (Bauman, Z; 1998, p.10)

, sou obrigada a perguntar: - Que “rituais” aplacariam a “fome” de que “altares” neste momento?...

Bauman usa também em seus textos, com frequente eloqüência, termos como: "Minha língua de origem", "Meus laços", "Minha alma Mater", “restauração”?...

..."Foi a primeira vez que escrevi alguns capítulos originalmente em polonês, minha língua de origem, assim como os apresentei e discuti com professores e estudantes poloneses. Meus laços com minha Alma Mater, a Universidade de Varsóvia, foram restauradas"...(Bauman,Z. 1998 , p.11).

aí, ele está falando de “IDENTIDADE”, que é um substantivo tão “feminino” quanto o conceito junguiano do arquétipo da Ânima, que significaria, na nomenclatura junguiana, a capacidade de introspecção reflexiva, tida como espontâneo talento feminino, embora não privilágio de mulheres.

Fala desta IDENTIDADE, inclusive como instituída na subjetividade de um homem, e promovendo nele o risco de, ou a possibilidade da experiência de “INTIMIDADE”. Substantivos femininos que são (Identidade e Intimidade), pode parecer ou soar como “coisa de fêmeas ou de afeminados”.

Quando isso acontece, pode ser precoce e inconscientemente rejeitado por leitores patriarcalistas, na medida em que muitos leitores não tenham sido educados a “lê-las” como possibilidade de “Ânima” (metáfora imagética interior, ou arquétipo, significando “guia interior” pelas trilhas misteriosas da reflexão, da ternura, da piedade - a trágica, não a cristã -, da empatia, etc...).

Isto posto, voltando à pergunta acima, se IDENTIDADE e INTIMIDADE estivessem agora "no altar", qual seria a "vítima imolável"? O quê sacrificaríamos em nome delas?

Faço minha plausível hipótese “utópica”: SACRIFICARÍAMOS O NOSSO SILÊNCIO PERVERSO QUE REINA, REFERENTE À AGRESSIVIDADE. Não custa lembrar o quanto o contingente masculino mundial costuma alardear o seu silêncio como se fosse um suposto benefício ou suposta sabedoria... A agressividade precisa construir suas continência e fala, seus LUGAR e EXPRESSÃO adequados (não mais per-vertidos), para que nossos meninos sobrevivam à “árvore” cantada por William Blake:

A ÁRVORE ENVENENADA

Estava com raiva do meu amigo

Falei de minha ira; minha ira morreu.

Estava com raiva de meu inimigo.

Não falei disso; minha irá cresceu.

E umedeci-a em meus medos.

Noite e dia com minhas lágrimas

E aqueci-a com sorrisos

E astúcias doces e insinceras.

E ela crescia de noite e de dia

Até dar à luz luminosa maçã

Que meu inimigo, vendo brilhar,

Soube que era minha.

E meu jardim invadiu

Quando a noite tudo tinha ocultado

E pela manhã feliz constatei

Meu inimigo estendido sob a árvore’ "

(W. Blake citado pelo psicanalista junguiano E. Whitmont; 1982 , p.37 e 38).

Quanto o conceito de “ESTRANHO”, que não economiza processos de exclusão, sigamos a descrição conceitual baumaniana já citada do processo de "criação de estranhos".

..."cada espécie de sociedade produz sua própria espécie de estranhos e os produz de sua própria maneira, inimitável”.... ...“Ao mesmo tempo em que traça suas fronteiras e desenha seus mapas cognitivos, estéticos e morais, ela não pode senão gerar pessoas que encobrem limites julgados fundamentais para a sua vida ordeira e significante”.... ...”Os estranhos tipicamente modernos foram o refugo do zelo de organização do Estado”... ... ”Não podia haver nenhum espaço para os 'nem uma coisa, nem outra',” ... ...”Em seguida, verifiquemos a definição das estratégias modernas de ‘anulação dos estranhos’, que ‘pega emprestado’ nomenclatura de Lévi-Strauss :” ...’Antropofágica’ : Aniquilar os estranhos devorando-os e depois, metabolicamente, transformando-os num tecido indistinguível do que já havia. Era esta a estratégia da assimilação: tornar a diferença semelhante”......’Antropoêmica’ : vomitar os estranhos, bani-los dos limites do mundo ordeiro e impedi-los de toda a comunicação com os do lado de dentro. Era essa a estratégia de exclusão “... ...”ou, quando nenhuma das duas medidas fosse factível, destruir fisicamente os estranhos”... ..”comum das duas estratégias foi o notório entrechoque entre versões liberal e racista nacionalista do projeto moderno”... ...”sob a pressão do anseio da moderna constituição da ordem, os estranhos viveram, por assim dizer, num estado de extinção contida”... ...”eram, por definição,uma anomalia a ser retificada"... (Bauman , Z . ; 1998 , p.27, 28, 29 e 30) .

A questão da violência (sempre tanática) permeia tanto o "antropofágico" quanto o "antropoêmico" de Lévi-Strauss como citado acima por Bauman.

É possível falar de Economia sem debater a violência e a capacidade de estabelecer acordos na humanidade?

Gandhi diferenciava a opção pela violência, ou pela não - violência, com uma simplicidade cativantemente desconcertante: o violento quer fazer o Outro sofrer tanto ou mais que ele, para que o Outro conheça o seu sofrimento. Já o não - violento quer apenas que o “Outro” pense no seu sofrimento, sem precisar sofrê-lo; fica satisfeito se o “Outro” apenas refletir.

Foi este o pensamento que guiou a luta pelos Direitos Civis, que poupou alguns “estranhos” de alguma violência. Fazer o Outro pensar é agressividade erótica; dá fala ao "Estranho", e permeabilidade ao Grupo Social: permeabilidade para mediação, para tessituras (a princípio) horizontais e certamente “cri-ativas”.

“...A tolerância nasce de um acordo e dura enquanto dura o acordo. A serenidade é um dom sem limites preestabelecidos e obrigatórios..." (Bobbio, N.; 1998, pág.43).

Quando algum espaço é permeavelmente cedido ao “estranho”, ou conquistado para a partilha com ele, momentos de criação (erótica) sublime podem acontecer. Desde que o ator social Mulher surgiu, passando a ser o coletivo das mulheres, as conquistas femininas (assim como as “contraculturais” em geral) geraram uma lista interminável de "benefícios dialéticos" ou boas partilhas. Lembremos alguns, por sua curiosidade, e por pouco citados que são.

Na medida em que as mulheres ampliaram até o seu espaço no meio acadêmico, ainda na primeira metade do século XX, profissões antes "masculinas" como a antropologia, arqueologia, paleontologia, em mãos femininas, começaram a trazer um "Big-Bang” de novas informações, através de re-leituras que só o seu olhar detectava (como o entalhamento de calendários lunares referentes a períodos menstruais, indecifrável aos olhos dos paleontólogos de sexo masculino que as precederam).

Temos um exemplo disso ainda mais recente, e em território nacional. O risco que a arqueóloga Niède Guiddon correu de ser desqualificada como pessoa, (e não apenas como profissional), através da “guerra suja” referente à real datação das inscrições rupestres do Piauí, como denunciado tanto pela imprensa leiga como pela “científica”, mostra que a "extinção contida" se mantém, mas que a luta por um espaço de saber (e de respeitabilidade) menos misógino é um exemplo de ato agressivo, porém erótico. Paleontólogos norte americanos (de sexo masculino) tentaram argumentar insinuando até que Niède estivesse “emocionalmente perturbada”, pois sua condição feminina “roubaria” dela o “bom senso e o rigor científicos”, e - pelo prazer mórbido de prová - lo - tentam, em exibição de pura misoginia, há anos, (sem sucesso), manipular (verticlamente) o processo de verificação de datação.

Já num exemplo bem diferente, "O Estranho no Ninho", romance que se transformou em filme famoso e emblemático, brotou do “ninho” dos beatnics. “Ninho” que talvez tenha sobrevivido à ridicularização nos anos 40 (“-São só malucos estranhos!”), à aceitação à distância vigiada dos anos 50 (“-São só poetas estranhos de quem alguns malucos gostam!”), até a aceitação contida nos anos 60, graças à "Liga" energética que dava "Aura Protetora" ao seu núcleo (-“Não sabemos exatamente que coisas estranhas eles querem, mas é bom prestar atenção!”).

A paixão estética de William Borrougs, a paixão inconformista de Jack Kerouac, e a paixão pela espiritualidade do Budismo de Allen Ginsberg se trançavam, tecendo posições de resistência, que deram suporte e (re)alimentaram - inclusive - a luta pelos direitos civis, o desenvolvimento do feminismo, o respeito aos homossexuais (outro novo coletivo de atores sociais gestado no universo íntimo), o pacifismo hippie, etc. : teceram Política.

...”De repente percebi que em virtude de seus muitos pecados, Dean estava se transformando no Idiota, o Imbecil, o Mártir do grupo. - ‘ Você não tem a menor consideração por ninguém, a não ser por você mesmo e por seus malditos frenesis. Só pensa no que tem pendurado entre as pernas e em quanto dinheiro poderá arrancar das pessoas que te cercam antes de simplesmente largá - las na mão. E não é só, o pior é que você nem mesmo se importa com isso. Nunca te ocorreu que a vida é coisa séria e que existem pessoas tentando fazer algo decente ao invés de apenas ficar agindo feito estúpido?’ ...Era isso que Dean era, o ESTÚPIDO SAGRADO. Um santo”... (Kerouac , J. ; 1987 , p. 202).

Quem sabe seu "Uivo" (“UIVO”: poema de Allen Ginsberg) tenha se prestado ao papel de "fala" da agressividade erótica de muitas gerações de "estranhos"? Quando a estética, a autonomia, a responsabilidade e a ética se trançam, quem ou o quê se lhes resiste?...

Verdes Ecologistas começaram por delicados (e distantes uns dos outros) "pios", mas o Greenpeace (por exemplo), chegou “uivando” a seu modo ao final do século XX, e conquistando legitimidade junto com mais esse coletivo de atores sociais, os Verdes, numa já significante e respeitosa participação política mundial, (partidária, inclusive), conquistas de (literalmente) novas definições e novo tratamento dos territórios e das fronteiras, que passam a ter que ser “lidos planetariamente”.

Rivalidade : a per - versão da relação fraternal, a primeira de todas as relações horizontais. As relações entre Homens e Mulheres não deveriam, poderiam, ser horizontais? (Embora jamais padronizadas!) Parece que entre os dois grupos ainda predomina a verticalidade (para sentó-lo basta abrir os jornais todos os dias: todo dia é dia de alguma Eloá “da vez”)... Peço, mais uma vez, que releiam textos anteriores do BLOG onde ressalto uma questão ansiógena: não existe ainda o coletivo Homem; “Homem ainda não existe”; não existe como ator social...

Como a Humanidade, a Sociedade (independentemente de orientações sexuais individuais), é composta de Mulheres e Homens. Fica MUITO difícil passar por maiores e plausíveis alquimias transformadoras a partir dessa “nada pequena” diferença...

..."Não se trata aqui de reivindicar uma igualdade´, a maneira dos movimentos feministas contemporâneos, mas de constatar - o que é muito menos confortável - uma indiscriminação entre os campos masculino e feminino, tornada evidente na pós modernidade, quando um relaxamento na repressão (não no recalque) imposta pelos costumes deixa de produzir as diferenças aparentemente 'fundamentais' entre homens e mulheres. O desconforto provém da constatação de que a aproximação entre estes campos produz muito mais intolerância do que diálogo, muito mais rivalidade que desejo..." (Kehl , M. R ; 1996, p.14).

Lembro até hoje: numa conferência, há muitos anos, um professor disse que as primeiras moedas tinham sido confeccionadas com um buraquinho no meio porque simbolizavam as vaginas das "moedas-mulheres" (durante um período "moedas-em-pessoa"), até que se pensasse em substituí-las pelo símbolo mais concreto embora ainda "antropomórfico"... Os buraquinhos desapareceram com o tempo, mas até hoje os pais dizem aos filhos para que “não ponham dinheiro na boca porque dinheiro é sujo”, e a expressão (metafórica ou não) “é fruto de dinheiro sujo” é também comum. Nos próximos textos prometidos no início voltarei a estas específicas questões histórico-conceituais de “limpeza” e “sujeira”.

Ser "consumidor" ou "não - consumidor" é experimentar “papel histórico” suficiente, satisfatório para algum observador ou estudioso da área?

Como anda se sentindo o contingente masculino, “ensanduichado” entre os excludentes papéis de “trabalhador compulsivo-provedor compulsório” e o de “desempregado compulsório-não-consumidor impotente”? Estas perguntas, assim especialmente direcionadas ao contingente masculino fazem sentido? Questões relacionada aos conceitos de potência/impotência dialogam diferentemente com o contingente masculino? Como sempre digo, prefiro deixar hipóteses, questões ou perguntas no ar, que sair fazendo preciptadas ou prepotentes afirmações...

Hierarquias no Espaço interior (subjetivo) aparecem a cada necessidade de escolha; cada escolha que precisamos fazer, verificando prioridades, plausibilidades, etc., nos expõe a um novo e exaustivo “exercício circense” em nossa individual subjetividade. Para tal, ela precisa exercer a mais equilibrada possível economia interna, emocional, para sobreviver com um mínimo de qualidade... O ato de escolher é o prato principal do atual “banquete servido pelos deuses”. A princípio, ele é da ordem da autonomia-autoria; e da horizontalidade.

Hierarquias no Espaço externo nem sempre “vêm de cima”, ou esperam nossas ordens “ali abaixo”. Não precisa ser assim; não precisamos obedecer ao sistematicamente burro senso comum ao qual parecemos acomodados. A Cultura de Massa é quem mais lucra, publicando e vendendo bilhares de “Manuais de sucesso” que mentirosa, criminosa e antipedagógicamente alegam para os jovens adultos em início de carreira ser meritório conquistar (a qualquer preço!) o “seu primeiro milhão de moeda” até os 30 anos!... Há algumas gerações é alardeado que pisando (de cima para baixo, claro) em tudo e todos em que for necessário é que se “vence”... (Enfarta logo depois, avilta a alma por quaisquer dez milréis, mas supostamente “vence”). Para os supostos “perdedores” é vaticinado o status de NADA; de morto-em-vida... Deve ser a “Pedagogia do Psicopata Feliz”, certamente...

Hierarquia também pode significar compartilhar idéias para - então - fazer escolhas conjuntas para resultados recíprocos e ainda melhores, exercendo e recebendo alteridade e respeitabilidade, fugindo do modelo “Abel X Caim”, que não é compulsório.

Talvez seja por isso que, numa relação sexual, quanto maior é o “compartilhamento da hierarquia circunstancial na topografia corporal - emocional - intelectual dos envolvidos”, maior o orgasmo!

Utopias plausíveis são as que nascem do exercício inesgotável e constante; não de decretos.

Saudades de MILTON SANTOS, que - ao contrário de mim - entendia muito bem de ESPAÇO e de ECONOMIA:

...”Acreditamos que a noção de cidadania se possa prestar à discussão aqui proposta, desde que a consideremos em sua tríplice significação: cidadania social, econômica e política. Quanto mais se afirmam essas diversas vertentes da cidadania, maior é a garantia de que a velocidade pode ser limitada, ao mesmo tempo em que os benefícios da modernidade encontram a possibilidade de uma difusão democrática. Será dessa forma que, num primeiro momento, serão reforçadas as individualidades fortes, provocando a necessidade de uma informação veraz, criando limites à propaganda invasora e enganosa, tudo isso se dando paralelamente a uma renovação do Estado nacional . Será, também, por meio desse processo que o mercado interno será revigorado e os mercados comuns entre países serão horizontalizados, abrindo caminho para que o dinheiro regresse à sua condição histórica de equivalente universal e abandone a sua função atual de regedor exclusivo e despótico das relações econômicas. Pelas mesmas razões, aquilo que chamamos de informalidade da economia melhor cumprirá suas funções econômica, social e política sem a necessidade de formalizações alienantes e fortalecendo o papel da cultura localmente constituída como um cimento social indispensável a que cada comunidade imponha sua própria identidade e faça valer, a um ritmo próprio, o seu sentido mais profundo”... (Santos, M; Texto “Elogio da Lentidão” da coleção do Caderno Mais! / Folha de São Paulo, 2001).

Sujeitos inseguros (sem presente estável, e desfuturados), que dediquem suas vidas a correr freneticamente atrás de dinheiro, vão precisar chegar na hora de suas mortes para descobrir (infelizmente um pouco tarde) que o dinheiro não lhes garantiu onipotência real, nem imortalidade, e que o sentido da vida poderia ter sido buscado numa esfera de valores qualitativos?

Pelo menos a metade da humanidade, é constituída por “Sujeitos Nascidos com o Sexo Masculino”? É constituída por Sujeitos que - ainda por cima - são “homens-ainda-não-atores-sociais”; logo: inseguros, na medida em que seu sentimento de pertinência a 'um coletivo para chamar de seu' está frustrado? São estes os que preocupam sociólogos como Alain Tourraine, e Marlise Matos entre vários outros, ou psicólogos como eu?

Se estes não são ainda atores sociais, ainda são fantoches, especialmente reféns do suposto Mercado-Autônomo que os subjuga e manipula, como apontam vários autores, (como vimos através do alemão Robert Kurz). Assim, parecem tender a se tornar suas mais frágeis vítimas, tornando-se especialmente sem recursos para exercer autoria-autoridade sobre as crises econômicas e suas consequências; ou não?...

Perguntas, questões, são buracos eróticos no meio do cotidiano, estimulantes “casas vazias” deleuzianas, que ainda valem a pena caso preparemos Projetos sempre renováveis para ocupá-las (vide, por favor, textos anteriores).


Ilustração: GOYA - "Tristes pressentimientos de lo que ha de acontecer"

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