sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Informais e curiosas "sincronicidades Políticas" compartilháveis


Foi só eu botar esse texto sobre Política e MASCULINIDADES "no ar", e meu amigo Guilherme Simões Reis (jovem e brilhante Cientista Político) me mandou notícias de uma grosseria da Folha de São Paulo, cujo resumo do texto era:

"Pessoal, Como reproduzi em e-mail anterior, a Folha de São Paulo chamou em editorial o sanguinário regime militar brasileiro de "ditabranda" e, em resposta às merecidas críticas emitidas pelos professores Maria Victoria Benevides e Fabio Konder Comparato, chamou-os de cínicos e mentirosos, por não terem se manifestado contrariamente também ao regime cubano..."

Respondi, aliás duas vezes, pois houve quem tentasse defender a "Folha". Aproveito para compartilhar o "desenrolar da coisa" com aqueles que se dão ao trabalho de passar por aqui.

Minha primeira resposta foi:

"Guilherme e amigos:

Na verdade acho mesmo que há males que vem prá botar as coisas para sair do marasmo, o que já é ótimo.


Esse debate é muito sério, profundo, urgente, e não deveria mais ter caráter 'partidário' ou semelhante.


É o aspecto polyanesco da coisa: é (no mínimo) mais um evento que está provocando debate; debate muito específico em seu potencial de reflexão, que atinge TAMBÉM o pensamento dessas coisas humanas que AINDA (!) chamamos de 'esquerda' e 'direita'.

Confesso que não tenho mais paciência para um dualismo tão mixuruca...

É muito mixuruca quando a gente chega num restaurante e o garçon pergunta -'Cerveja ou Refrigerante?'
EU PREFIRO TER A TERCEIRA OPÇÃO DE UM SUCO!...


Enquanto isso, as crianças aí, nascendo aos magotes, morrendo de tiro e de fome (muitas vezes pelos dois motivos), sendo enviadas ora para guerras, ora para a prostitução, e os supostos adultos preocupados em exercitar poder partidário-ideológico como se fossem um grupelho de guris brigões diante de um mero Fla-Flu???...

Confesso que há MUITO tempo não tenho simpatias por Fidéis e coleguinhas; não posso simpatizar com compartamentos conservadores que abrigam SIM atitudes repressivas, não só com a liberdade de expressão, ou com o evitamento de alternância de poder político, mas especialmente com questões supostamente 'da vida íntima' (patriarcalismos, homofobias, pluralidades humanas em geral, negligência em vários níveis quanto as crianças, etc.).

Mortes de crianças e de poetas me repugnam especialmente...

MESMO ASSIM, chamar o que passamos de DITABRANDA É UM INSULTO, que só seres muito cínicos e mentirosos ousariam.

Todo o meu apoio aos professores, mesmo que eles discordem de mim, e uma vaia à Folha, que paga este mico público com a maior cara de pau (mas que vai ter que arcar com as responsabilidades, claro).

Nossa responsabilidade é debater, debater MUITO, provavelmente por MUITO tempo, até que o 'momento do grande simancol' chegue: o futuro de nossas crianças (SIM, PORQUE TODAS SÃO NOSSAS!) não pode ficar na dependência de um 'Fla-Flu' de mentirinha, cínico e mentiroso, que só satizfaz a fissura por um poder...infantilizado...fora de hora.

BJS!"

Depois da tentativa de defesa da Folha de alguém, finalizei com:

"QUEM duvida do 'peso real' que a ditadura teve?...

Quando eu trabalhava no Pinel, dos receituários ao papel higiênico, TODO o material de papel tinha o carimbo 'A Revolução de 64 é irreversível'.

Tirando o aspecto patético, que denunciava - inclusive - a plena sanidade mental de nossos (supostos) clientes internados lá (muitos para fugir da tortura, aliás), o peso TANTO da violenta prepotência grosseira, quanto da tentativa de 'engambelar pela informação deformada' fica auto-evidente.

Nosso grupo foi vigiado ostensivamente; o responsável pela Terapia Ocupacional NÃO era terapeuta; não era sequer psiquiatra, era um médico(ginecologista!)-policial-político, e tentou denunciar a todos nós, que só não fomos indiciados porque nosso chefe assumiu a responsabilidade pela equipe, e respondeu sozinho ao inquérito (por suposto uso subversivo do ensino de psicoterapia).

IH! Tantas histórias só de lá... Se eu ficasse aqui contando, vocês iam dormir antes de acabar de ler...

Mas, ainda acho que o assunto mais interessante que a situação criada pela Folha traz, é o da responsabilização:

- quem hoje em dia se responsabiliza por refletir (ou se responsabiliza por preferir não refletir),

- quem se responsabiliza por pensar e repensar no que vai acontecendo a cada passo-desenvolvimento de cada debate (ou se responsabiliza por preferir nem respirar antes de pensar),

- quem se responsabiliza por expressar o que pensa (ou se responsabiliza por preferir não falar para não bancar o 'mala', ou se responsabiliza por preferir não falar para não bancar o que 'se compromete com o que diz', o que seria inclusive legítimo e louvável),

- quem se responsabiliza por publicar coisas e torná-las com isso oficialmente 'PÚBLICAS' e agentes de informação verdadeira ou mentirosa (ou cínica, ou sínica(*), já que quando se tecla se erra com grande facilidade, o que não me incomoda nem um pouco, pois o erro de digitação pode - em seguida - ser corrigido, embora ESSA correção não diminua nem 'corrija', por exemplo, o filicídio ambiente, que tanto me aflige), e quem se responsabiliza por impedir a publicação do que quer que seja,

- quem se responsabiliza por acolher inteligente e generosamente uma ou outra colocação do outro que o tenha replicado (ou se responsabiliza por preferir a burrice do encapsulamento num discurso supostamente verdadeiro),

- quem se responsabiliza por sua plausível função diante do eloquente status quo que o rodeia, com seus plausíveis pensamento-ação, (ou se responsabiliza por disputar apenas o suposto poder de 'ganhei a discussão', que me parece tão infantilóde),

e por aí vai...

Talvez o também médico-torturador Dr. Amilcar Lobo (por exemplo, e seus amiguinhos ditatoriais) achasse(m) que a ditadura foi 'branda' (???!!!).

Um órgão de Imprensa NÃO pode fazer uma afirmação como essa; NÃO pode se dar a esse desfrute, pois não está de 'ingênuo' na situação; detém forçosamente documentação indiscutível e abundante que o desmente.

Os professores ganharam um presente escondido: a oportunidade de encaminhar uma reflexão interessantíssima com aquela preciosa meia dúzia de pessoas que ainda tem 'saco' de pensar (elas existem!).

Apenas torço para que não caiam na esparrela de enfiar um outro discurso supostamente verdadeiro debaixo de seus bracinhos (que deixem a Folha fazer isso sozinha, se for o que ela escolher!), e disperdissem a belíssima oportunidade de cooptar, numa oportuna reflexão, um belo grupo de leitores.

Mas...ru quérs?...
Não tenho a menor dúvida que minha limitação de saberes serve a muito poucos.
Contanto que continue servindo à qualidade do meu sono quando ponho minha insignificante cabecinha no travesseiro, em plena paz-comigo-mesma, já deixa de 'embarreirar' a vida dos outros, o que já está de bom tamanho...
Quando deixam, eu corro, prestativa, com minha gotinha d'água (pensante e agente) na ponta do bico...
Raramente deixam; mas me mantenho devidamente desiludida, responsável, o mais acolhedora possível, atenta, e + ou - forte.
BJS!"


(*) referência a um e-mail, não meu, mas que circulava junto, onde cínico estava escrito com s por erro de digitação.

São só alguns bilhetinhos informais entre amigos, mas a sincronicidade de estar circunstancialmente TÃO envolvida com o assunto me leva a compartilhá-los aqui.

Ilustração : Iman Maleki

9 comentários:

Calila das Mercês disse...

Nossa!! Que post, hein!! Gostei de ver a forma como se dirigiu aos "BONS", os que se acham bons, quer dizer!!

Olha Christina... é lamentável esse duelo que existe na nossa sociedade [esquerda-direita, preto-branco, rico-pobre]. Estudo jornalismo e às vezes temo trabalhar em lugares que vão querer mandar nas minhas preferências...

Mas ainda confio no meu caráter!
Parabéns pelas respostas!
Ah, vou por um link de seu blog lá no Cafezinho do dia e seguirei seu blog, com certeza!

Saudações

P.S.: Ah, deixei um recado pra vc no meu blog! Fiquei interessada nessa Oficina

Marcelo Henrique Marques de Souza disse...

Christina, primeiramente, seja bem-vinda ao Im-postura. Estou linkando você por lá.

Quanto ao tema em questão, penso que negar a ditadura é até mesmo autofágico, para um jornal. Apesar de não considerar a imprensa "livre", como ela própria tanto alardeia, penso que se alguém poderia dizer uma coisa dessas, seria qualquer um, menos um jornal.

Acho, entretanto, que a grande vítima do golpe de 64 foi o próprio exército, que foi rotulado pela esquerda tipo-PT como sendo ditatotial em essência, quando, na verdade, exerce, em tese, função importantíssima de defesa das fronteiras em qualquer país que se preze. Quem inventou as ditaduras militares na América Latina foi o governo norte-americano (basta lembrar da tal 'Operação Brother Sam'), com suas intenções capitalistas pautadas pela mídia. Não acho, portanto, que vivemos numa sociedade onde impera a "liberdade de expressão". Só pode 'se expressar' hoje quem inventa uma forma de transformar sua 'expressão' em produto. Mas aí.. já não há expressão de fato...

Enfim, a ditadura foi um tiro no pé do Brasil. Que entrou definitivamente em coma quando o Jango não aceitou lutar, como queria o Brizola.. Hoje, por isso, vivemos do bolsa-família e das novelas.. a cara javanesa e vira-lata de um quase-país.

Parabéns pela iniciativa do debate.

ARMANDO MAYNARD disse...

Depois do bispo Richard Willamson negar o Holocausto, vem a "Folha" com essa de "ditabranda".

Solange Maia disse...

Christina,
Que belo blog !
Fiquei encantada com seu trabalho e com seu posicionamento. Fantástico.
Suas Oficinas devem ser maravilhosas, senti a energia nas fotos !

Parabéns !!!

Beijo,

Solange Maia

quande der passe para conhecer o meu blog :

http://eucaliptosnajanela.blogspot.com

Vera disse...

Moça!

Parabéns pelo post!

É triste ver que ainda hoje haja o confronto ideológico de partidarismos.

Cuba é o exemplo clássico. Por trás do dito Socialismo existe a repressão e quem contesta ou tenta ir contra "o sistema", sofre represálias.

O mundo está carente de opiniões bem esclarecidas, como a sua.

Deixe a porta aberta. Virei aqui mais vezes, sim?

Abraços.

i disse...

Estou chocado com o relato sobre o material do Pinel. Do Pinel!!! Você guardou algum? Se tiver, guarde com carinho (e se puder digitalizar então...), porque é um documento histórico incomparável!

CHRISTINA MONTENEGRO disse...

Nunca respondo por aqui, mas esse "comentário" merece: Pintura em Camisetas?...
Tem certeza de que você leu o texto, espiou o Blog?...
Ou será que eu é que não entendi, e há aí uma mensagem que na verdade quer dizer que você faz questão de "vestir-a-camisa", é isso?...
Tudo bem; a vida 'tá dureza, né?
UFF!

Dona Sra. Urtigão disse...

Li todo seu texto. Não tenho nada a comentar, apenas contemplar as minhas lembranças daquele tempo, lembrar-me sempre do que o humano é capaz, a seu semelhante ou dessemelhante,e cuidar.
Ah! ótimo texto.

Valdemir Reis disse...

Crhistina venho de coração agradecer sua gentileza em visitar-me e seguir, fico muito honrado, votos de muito sucesso. Nos encontraremos sempre por aqui, muito brilho e proteção.
Valdemir Reis