sábado, 14 de abril de 2012

OBRIGADA REVISTA HYPE E BETTY FELIZ!


PARA QUEM NÃO ACHOU A REVISTA HYPE, AQUI VAI MINHA ENTREVISTA PARA A QUERIDÍSSIMA BETTY FELIZ (com direito à chamada na capa! Veja a capa em http://www.hypeonline.com.br/ ), COM UMA DAS DUAS FOTOS QUE SAIU:

Um livro para "provocar susto no senso comum"
Entrevista para a jornalista e editora Betty Feliz, na Revista Hype ano 8 n.52 / 2012:

'Psicóloga, supervisora de Psicologia Clínica, especializada em Sociologia Política e Cultura pela PUC-RJ e em Psicopedagogia e Psicologia Clínica, Christina Montenegro escreveu um livro que, a partir do título, mexe com os homens e instiga a curiosidade das mulheres.
Quem quiser conhecer a autora de "Homem ainda não existe- Compartilhando reflexões para que ele exista" poderá encontrá-la no facebook, no seu Blog CuriosaIdentidade, ou em vídeos no Youtube:

Não por acaso, a capa do livro é ilustrada pelo famoso cartunista Laerte que, desde que assumiu sua porção feminina, vem causando polêmica e discussão sobre sexualidade em todo o país.
Veja o que a autora de “O Homem ainda não existe” pensa sobre questões como gênero, patriarcalismo, poder, estética e identidade.'

'O título do seu livro é provocativo e instigante. Pode ser considerado até mesmo assustador para alguns. Você queria causar esse tipo de reação quando o escolheu?'

"Queria provocar curiosidade que, como sempre digo, felizmente ainda não foi proibida...
Provocar algum susto no senso comum, habituado a ideias e comportamentos patriarcalistas/patrimonialistas, que andam enferrujando, especialmente nos últimos 50 anos, sobre gênero, poder e estética.
Enfim, provocar até risos, ao menos nos que são familiarizados com alguns discursos típicos da psicanálise.
É que Lacan disse uma vez que “mulher não existe”.
Quando ele disse isso, aliás, estava tentando elogiar as mulheres, por parecerem menos engessadas do que os homens quanto à construção de suas identidades.
Para ele, os homens desenvolveriam sua identidade a partir, por exemplo, do mito do patriarca cruel, que precisa ser assassinado pelos filhos para que a sociedade possa evoluir, tamanha a sua tirania; já as mulheres pareciam não se sentir aprisionadas a uma imagem ancestral equivalente a essa, e, por isso, se sentiriam à vontade para se posicionar diante da vida num estilo “la dona é móbile”. Ora é assim, ora é “assada”; ora é “frita”, ora é “cozida” etc...
Ao contrário do que o senso comum tenta nos convencer, rir não nos faz parar de pensar, nem desqualifica nossa capacidade de reflexão..."

'E como seu livro está sendo recebido pelo público?'

"Para meu alívio, leitores do chamado público comum têm recebido tão bem que as reflexões que eu gostaria de compartilhar, como diz o título, estão chegando sem parar, ora pela rede social – criei até uma página para o debate do livro no Facebook, além da manutenção de um blog –, nos comentários da série de vídeos que criei no YouTube, ora por e-mail mesmo.
Por outro lado, para minha alegria, dois respeitáveis acadêmicos me fizeram o mesmo e o maior dos elogios sem que um soubesse o que o outro havia dito: ambos disseram que eu tinha conseguido fazer “...um livro que qualquer leitor que desenvolva um hábito regular de leitura gostará de ler, inclusive porque o livro não é chato e tem até alguns momentos divertidos...” e que “...o desenvolvimento das ideias tem rigor e consistência”...
Confesso que fiquei, além de aliviada, prosa!

'Há algum tempo a mídia vem apostando no “novo homem” quando aborda a vaidade masculina e divulga matérias de comportamento que o colocam como mais sensível, mais participativo..., enfim, o tal de “alma feminina”. Este homem existe?'

"Não gosto dessa imagem de homem feminino.
Parece que, em primeiro lugar, a responsabilização por possíveis mudanças é delegada, mais uma vez, para a potência feminina, infantilizando a capacitação
de reflexão e transformação dos homens.
Em segundo lugar, essa imagem de “homens femininos” carrega um fedorzinho de “marketing de plástico”, onde um processo plausível de reflexão transformadora é substituído por necessidades do mercado, o que sempre é contraproducente.
Ator social é uma entidade da Sociologia onde um grupo, por algum motivo, se reúne e se organiza em torno de suas questões comuns.
Nesse momento, esse grupo passa a ser chamado por seu coletivo.
A instituição do ator social Mulher, após sua organização, e a do ator social LGBTT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transgêneros etc), após sua organização, são fenômenos que os homens ainda não experimentaram.
Talvez engambelados por seu próprio, e indiscutível, poder retórico e burocrático, eles não se debruçaram em torno de suas questões, e é óbvio que elas
existem, e não se deram ao trabalho de se organizar ao redor delas..."

'Essas questões são discutidas no seu livro...'

"Sim, trata-se de um dos assuntos que acompanham todo o desenrolar do livro.
Prefiro apostar nessa futura organização e, a partir dela, no desenvolvimento de masculinidades das quais vai emergir um Masculino com referencial masculino,
tão autônomo quanto o Feminino o conquistou, e com renovado projeto existencial próprio.
Cabe somente aos homens desejar e arriscar desbravar o que poderá vir a ser isso, esse perfil de pensamento, ação e responsabilidade para seu futuro (e o futuro de seus descendentes) no planeta."

'Mas, afinal, o que mais assusta os homens nos tempos atuais e por que essa desorganização, digamos assim, em torno de suas questões?'

"O que assusta é que se tornou evidente que eles são o único grupo de gênero que não ganhou os presentinhos que a autonomia traz, mas que há um preço a pagar antes de ganhá-los: aprender a conversar mais consigo mesmo, se abrir para seus iguais, se organizar, refletir, arriscar-se em novas experiências e responsabilidades, abrindo mão de hábitos ancestrais.
Isso não é nada fácil. “Transgredir a sério” dá um trabalhão em dois níveis: interno, com os “próprios botões”, e externo, com o outro e com responsabilidades, no mundo íntimo e no mundo público.
Reunir-se para debater poder monetário, burocrático ou sexual e/ou futebol é moleza!..."

'O que faliu no chamado modelo masculino tradicional e o que significa, então, ser homem nos dias de hoje?'

"Qualquer estatística sobre mortes, adoecimentos, acidentes, violência urbana ou claramente bélica, sequelas físicas graves e irreversíveis em consequência de tudo isso, hospitalizações, inclusive psiquiátricas, aprisionamentos etc apontam um ônus muito pior para o contingente masculino.
Além disso, é só olhar ao redor.
Se, por um lado, aceitamos que o poder planetário ainda é gerido pelos homens, por outro, ninguém anda feliz com os resultados, a começar pela guerra.
Estamos em 2012 e a prática de soluções pela via diplomática ainda engatinha, como se adultos se comportassem como criancinhas pequenas disputando territórios imaginários e brinquedos no tapa com os coleguinhas de playground.
Claro que o mercado armamentista, visivelmente em mãos masculinas, fica felicíssimo com isso...
As questões ecológicas são assassinadas todos os dias pelos mesmos motivos.
Um poder com esse padrão de letalidade e sofrimento para a maioria deixa a quem feliz?
Esse poder, mulheres e LGBTTS não querem mais não... Ou melhor, mulheres, LGBTTS e homens não patriarcalistas e não patrimonialistas não querem mais não!
Não podemos esquecer que, por incrível que pareça, existem tanto mulheres e LGBTTS patriarcalistas/patrimonialistas, quanto homens que não o são mais, ou que desejam claramente desobedecer a esse padrão.
Quanto ao que é ser homem, eu me recuso a me meter a responder.
Não só não tenho a experiência de sê-lo, como não vou tomar a frente deles, ou invadi-los com meus possíveis “eu acho isso, eu acho aquilo”.
De “achismos” invasivos o mundo já está repleto!
Meu livro faz muito mais perguntas do que se mete a dar respostas.
Tenho horror desses manuais de que o mercado editorial parece gostar tanto..."

'Se é verdade que são as mulheres/mães que educam os filhos, porque eles continuam repetindo os mesmo erros? As mães de hoje (e de ontem) estariam
prestando um desserviço à causa masculina e, por consequência, às próprias mulheres?'

"Em primeiro lugar, isso é parcialmente falso: filhos têm sempre mãe e pai.
Se o pai é abandonador, ausente, omisso, negligente, ou mesmo abusador é outra coisa; a educação vem da imagem dos dois, seja ela qual for.
As mães podem ensinar tudo, menos uma coisa: ensinar aos filhos homens o que é, como é e o que significa ser um homem.
Se o pai não estiver presente, o menino vai absorver o universo masculino ao seu redor.
Nós todos nascemos imersos em uma coisa chamada “caldo cultural” e respiramos esse caldo desde pequenos.
O planeta ainda fede a patriarcalismo/patrimonialismo. Só isso
é o bastante para que os meninos repitam padrões..."

'Padrões de educação...'

"Sim. Na maioria dos lares, escolas e ruas, os meninos ainda ouvem que “menino não chora”; ainda são desestimulados a ajudar nas tarefas domésticas, o oposto de suas irmãs mulheres; a ajudar a cuidar de seus irmãos menores (o que também sobra para as irmãs mulheres), e ainda são desestimulados
para muitas expressões estéticas...
Balé, nem pensar! E por aí vai.
Nas pré-escolas e escolas, a figura do professor homem é raríssima. O magistério está prioritariamente em mãos femininas.
E quando está em mãos masculinas, essa questão das necessidades específicas dos meninos-homens não é debatida.
Ofereci, há alguns anos, um projeto para professores homens a duas ONGs poderosíssimas que lidavam com educação. Elas recusaram dizendo que o assunto “não era tão importante assim”...
Nem acho que sejam repetidos erros...
Como sou psicóloga, creio que, neuroticamente, se repetem problemas, isto é, questões. Enquanto a questão não é refletida, falada, debatida, ela se mantém repetindo.
Não há pecado ou erro: há neurose histórico-antropológica..."

'Você diria, então, que na questão homem/mulher não há vítimas nem culpados?'

"Não há mesmo!
Há apenas a aventura da população planetária, igualmente envolvida com seu trágico caminhar que, quanto mais fraterno/solidário se tornar, mais ameno e, talvez, divertido poderá ser.
O que aconteceu até o capítulo no qual nos encontramos é que ficou faltando uma categoria de gênero (os homens) ter peito de “dandar prá ganhar temtém”, como a gente diz para os bebês que estão aprendendo a andar em cima de seus dois pés,
autonomamente."

'Quais são suas expectativas diante disso?'

"Não tenho a ilusão de esperar grandes transformações na minha própria geração.
Sou capaz de apostar que transformações para muito melhor virão: na vida de um contingente masculino mais amadurecido, nos relacionamentos intergêneros, na gestão do planeta etc.
Mas ficarei feliz se meus tataranetos se beneficiarem.
Meu papel é provocar, plantar sementinhas de reflexão, essas coisas.
Como Betinho lembrava, é a gotinha de água no bico do beija-flor, para apagar o incêndio da floresta.
É só uma gotinha, mas é toda gotinha que tenho para dar e não vou ficar parada só porque é tão pouquinho..."

Lembrando:
http://www.youtube.com/watch?v=Z3iQdp2nito (o próximo vídeo , o número 4, já está em produção!)

2 comentários:

disse...

Olha estou super chateada, com a revista Hype, sinceramente muito decepcionada, com atitudes de funcionario, aff.

CHRISTINA MONTENEGRO disse...

O que houve?!...
Fui tão bem acolhida, e bem tratada pela Beth Feliz!...
Que tal escrever para lá e falar com ela?
Abração!