sábado, 28 de junho de 2008


EXERCITANDO DEFINIÇÃO SIMPLES,

PARA NOSSA QUESTÃO HIPERCOMPLEXA,

A IDENTIDADE:


O fenômeno que chamamos (com falsa intimidade) de IDENTIDADE é um paradoxo.

É O MOVIMENTO de descobertas e escolhas, contínuo e inesgotável, que envolve o desenvolvimento das sementes de nossos mais primitivos vínculos com o Mundo e com o Outro:

-vínculos temporais (um dia, começamos a nos relacionar com o tudo que significa TEMPO);

-vínculos espaciais (um dia, começamos a nos relacionar com tudo que significa ESPAÇO);

-vínculos de GÊNERO (um dia, começamos a nos relacionar com as noções de feminino, de masculino, e todas as suas possíveis combinações);

- e ainda os vínculos de CIDADANIA (um dia, começamos a nos relacionar com tudo que significa instituição: família, escola, casa, quarteirão, bairro, cidade, festejos, jogos, símbolos, regras, responsabilidades e direitos, etnias, religiosidades, ética e estética, meio ambiente, etc.).

SIMULTANEAMENTE, É TAMBÉM a nossa “cota sagrada” de IMOBILIDADE: por mais que desenvolvamos saberes, escolhas, e nos transformemos, ALGUMA COISA (quase um mistério) CHAMADA “EU” permanece; a esse quesito chamamos popularmente de “a nossa individualidade”.

Nossa preciosa SINGULARIDADE, único bem que o ladrão não leva, e que o Artista transforma em um bem, especialmente nobre...

Este PARADOXAL CONJUNTO DE MOVIMENTO E IMOBILIDADE é a nossa IDENTIDADE.

Ela SÓ APARECE QUANDO NOS EXPRESSAMOS, através de nossos pensamentos, nossos sentimentos, nossas ações.

Felizmente NÃO FICA “PRONTA” jamais!

É o que garante que, mesmo que não sejamos Artistas, a criatividade se mantenha (sempre!) em aberto para o próprio indivíduo, e para o grupo social no qual ele esteja inserido.

Ao torná–la foco de nossa atenção consciente, permitimo – nos ampliar suas possibilidades internas ou estruturais, além de melhorarmos a qualidade da visibilidade de sua expressão (pensamentos, sentimentos, atos).

Como pérolas (quem as tem sabe disso), gostam de ser manuseadas e exibidas; senão o são, ficam doentes...

Cabe, neste momento, lembrar a educação de MUITAS de nossas crianças (afinal, as crianças de todo o Mundo são de alguma maneira NOSSAS, nossa responsabilidade); “ALGO” não se educa; doma-se, usa-se, domina-se ou se adestra.

O “ALGO” de hoje, nos verá como “ALGO”, amanhã...

É ISSO que queremos para elas? Para nós?

Seria por nossas irresponsável desatenção e inabilidade que cada vez mais a cultura, a civilização, parecem alimentar sua fome filicida, que explora, tortura, usa, viola, arma e mata nossas crianças e jovens, sob nosso silêncio cúmplice?

Na relação entre Sujeitos que se sintam meramente “ALGO”, um vai assumir o papel de “ALGOZ”, levando o Outro a assumir o de “VÍTIMA”.

O “OUTRO”, igualmente, só tem valor de “ALGUÉM” (e não de “ALGO”) para um Sujeito (para um indivíduo ou para um conjunto de atores sociais) que também se sinta “ALGUÉM”.

Na convivência social, a conseqüência de uma (mais constante) reflexão sobre IDENTIDADE, somada ao exercício (mais constante) de visibilizá-la, pode conquistar e manter o reasseguramento do indivíduo (e/ou grupos humanos) dentro de uma melhor compreensão do VALOR do que é SE PERCEBER (e perceber o OUTRO) como “ALGUÉM”; não mais como “ALGO”.

Não só “SUJEITO”, “INDIVÍDUO”, mas também “FAMÍLIA”, “INSTITUIÇÃO”, “COMUNIDADE”, “ESPAÇO PÚBLICO”, “ESTADO”, “MERCADO”, são conceitos que SÓ ESTÃO “VIVOS” QUANDO SE MANTÉM EM CONSTANTE QUESTIONAMENTO, TREPIDAÇÃO, TRANSFORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO.

Assim como nem mesmo “ADULTOS” não são (nem serão) seres que “fiquem prontos”, a “HUMANIDADE”, a CIVILIZAÇÃO também não estão (nem ficarão) “prontas”.

UFF! Que bom!...

O PARADOXO ADICIONAL, é que – em nome de sua própria sobrevivência – NÃO DEVEM, NÃO PODEM, “FICAR PRONTOS”!

Para ESTAR VIVAS, pessoas, instituições, e suas expressões subjetivas ou relacionais (sociais e institucionais) PRECISAM ESTAR APTAS a transformações, SEMPRE!

Em eterna construção/desconstrução/oficina...

“SOLUÇÕES DEFINITIVAS”?

Repudio (e torço para que muita gente repudie) quaisquer discursos que se julguem “verdadeiros”.

Sempre que surge um suposto “DISCURSO VERDADEIRO”, surgem, por trás dele o corporativismo, o nazi-fascismo, e/ou os fundamentalismos.

É só abrir os jornais; infelizmente eles continuam por aí, com suas "verdades" debaixo do braço (direito, provavelmente...).

Afinal, assim como não existem “identidades prontas ou finalizadas”, pois estas estariam mortas, o mesmo vale para o pensamento (conceituações, teorias) e para suas conseqüentes ações (práticas).

Exercícios de ensaio, erro, acerto, tentativas: é o que basta; são/estão vivos, e deixam viver.

Ilustração: Jackson Pollock - Stenographic Figure - 1943

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