segunda-feira, 30 de junho de 2008

IMPACTO !


PARA “CAUSAR IMPACTO NOS DIAS DE HOJE...

...QUEM SABE, ARREBATAR ALGUÉM:

A partir de amanhã compartilharei esse BLOG com algumas pessoas; as primeiras; e ainda nem sei “se estou fazendo tudo direitinho”, segundo sei-lá-que-figurino... rsrsrsrs

O que seria necessário para causar um impacto agradável e suficiente para que ao menos algumas pessoas continuassem lendo depois da primeira “visita”?

Meu filho mais novo enviou vários Blogs para que eu visse o que anda sendo feito por aí.

Ok, cada um tem seus objetivos ao se dar "esse trabalhão" blogueiro; os meus são BEM diferentes dos da maioria dos autores dos outros "diários de bordo"que vi.

Não tenho piadas escritas ou gráficas a oferecer, não tenho fotografias ou vídeos sensuais ou ao menos ironizando a sensualidade, etc.; tenho poucas gracinhas a distribuir...

NA-DA contra, pelo contrário, apenas tenho um “cardápio” diferenciado, que - JÁ SEI - agradará a poucos, por mais humor e ironia que eu tenha e use, no meu jeito esquisito.

Cada qual com seu risco; não apresentarei uma “loja” com “produtos” e “gracinhas”. Não preciso, não devo: já existem MUITAS dessas; Sirvam-se!

Por outro lado, também não ofereço “Obra de Arte” alguma; Nada assim tão nobre.

Qual a graça do que estou oferecendo, então?

Talvez seja a simplicidade de “RESISTIR pensando”, e propor - com a mesma simplicidade - que seja feito um compartilhável exercício crítico disso, e de seu possível conteúdo.

É! acho que IMPACTO ao gosto “Pós-Moderno-Indústria Cultural” não vai ter, não...: DELETE, pronto, se é só isso que você anda priorizando comprar!

Ou arrisque-se a RESISTIR também, neste espaço tão discreto, como eu, comigo, em busca de uma renovação cotidiana do olhar sobre coisas que a gente já conhece, mas (ainda) pensa pouco nelas, (ainda) fala pouco delas.

Acordar ousando desejar usar o dia para ser alguma coisa nova, que a gente ainda não sabe o que é, mas não é mais o que a gente era na véspera quando foi dormir, talvez seja - no mínimo - uma utopia plausível, quem sabe uma estilística de existência, que é o mais próximo da Arte que a gente pode chegar no dia-a-dia, sem ser artista...

Aliás, lembrando a Arte, escrevendo sobre as obras de José Rezende, exibidas de 16 de dezembro de 1980 a 31 de janeiro de 1981 no Espaço Arte Brasileira Contemporânea, no Rio de Janeiro, conclui o Crítico de Arte e Poeta Ronaldo Brito, (2001), com ar de definição que vai além da intenção imediata:

“... Nelas estão retidas, até a saturação, as marcas decisivas da revolução moderna. A essas marcas, entretanto, o trabalho aplica a inteligência de uma economia ao mesmo tempo rigorosa e liberatória - apresenta as informações que tornaram possível sua existência mas, a golpes de transformação, aparece outro e singular - , pura interrogação no presente e do presente. A força desse ‘agora’ nos atrai para essas coisas sem nome e nos prende na rede de suas inquietações. Ali experimentamos ‘momentos de arte’, essa certeza estranha de não saber quem somos”... (Brito, R.; 2001, p. 86) .

Em tempo: outra coisa que não “venderei” aqui é política partidária; sempre poderia aparecer alguém querendo botar dólares nas minhas calcinhas, e elas são MUITO bonitinhas, limpinhas e cheirosinhas para isso... E estão - felizmente - ocupadas gratuitamente e por desejo; têm mais o que fazer.

Aliás, o que alguns chamariam de “Arte engajada” é um absurdo; não há como transformar o não-artístico em artístico: ou o que acontece é Arte, ou o que acontece é “engajamento”.

O artista é ARREBATADO para a Obra pelo convite do Belo, que o Gênio dele capta e consegue antever: no mármore, na tela, no papel, na partitura, no palco... Não há artista arrebatado por algum arremedo de discurso supostamente “verdadeiro” de quaisquer lados... Gênio tem mais o que fazer, inclusive porque está atento a CONVITES muito mais interessantes: os da "musas".

Adorno acrescenta que Hegel, ao falar de “morte da Arte”, não viu que sua “vida” e sua “morte” não se passam no seu conteúdo, mas na sua própria efemeridade; é ESTA que permanece; o conteúdo pode ser a própria efemeridade:

...”Som algum teme o silêncio que o extingue.”... (John Cage.; 1985, p.98).

Assim, a Arte não tem “finalidade”, mas o seu LUGAR (na sociedade?) é o de recuperar o intervalo entre o mundo instituído como lógico, e o Nada. Nobre Lugar de jogo, símbolo e festa, logo de Comunicação, como esclarece Hans Gerg Gadamer! Afinal, comunicação induz à reflexão.

Isso também nos remeteria a Heidegger e a sua famosa pergunta:

- “Porque o Ente e não antes o Nada?”

Ou a Merleau Ponti e seu “miasma”: o momento em que a coisa não foi domesticada pelo nome, mas já não é mais o nada, nos ARREBATANDO “...ao não saber quem somos”, como tão bem descreve Ronaldo Brito alguns parágrafos acima.

Arrebatamento pela/para a POÉTICA, que o pensador Gaston Bachelard, o sociólogo Edgar Morin, ou o psicólogo Guy Corneau, e já muitos outros nos propõe(m) como PONTE PARA UMA MELHOR QUALIDADE DE VIDA EMOCIONAL, mesmo que não estejamos frente uma OBRA DE ARTE, mas tornando o nosso IMPACTO com “a vida da Vida” suficientemente ARREBATADOR, para que ele seja uma utopia plausível.

ARREBATAMENTO que o pensador Zigmunt Bauman, (2003) propõe como possibilidade de “AREJAMENTO” inclusive NO PENSAMENTO ACADÊMICO (que continua a rejeitar sorrateiramente o criativo).

Arrebatamento que “O OLHAR DE KASPAR HAUSER” nos possibilitaria, se o exercitássemos mais e melhor!...

Quem lembra do filme?

O filme, sobre esta história verídica, dirigido por Werner Herzog, passou no Brasil com o título de “O Enigma de Kaspar Hauser”. O nome original deste comovente trabalho é “Jeder für sich und Gott gegen alle”, bem mais significativo, querendo dizer “Cada um por si e Deus contra todos”.

Conta a história de Kaspar, criado em um sótão, sem contato humano algum até os dezoito anos. Ele aparece em Nuremberg, por volta de 1828, trazendo uma carta na mão com pouquíssimas referências desta misteriosa origem, sendo acolhido na casa de um criminalista, o Sr. Feuerbach. É assassinado em 1833, mas o crime nunca foi esclarecido, pois seus vizinhos se interessam prioritariamente pelo mistério da origem, esquecendo o do crime. SEU CADÁVER É DISSECADO, E SEU CÉREBRO RETALHADO...MAS NÃO O CRIME!... Este, pareceu "desinteressante"...

Estes fatos constroem uma CURIOSA METÁFORA EXTRA: “patriarcal”, “patriarcalismo”, “falocracia”, suas supostas vítimas etc. (fenômenos culturais tão familiares a quem reflete sobre os temas aqui propostos) são CONCEITOS E “ENTIDADES” USADAS, ESTUDADAS, PESQUISADAS, CRITICADAS, DISSECADAS, RETALHADAS, ETC.; NO ENTANTO, O SENTIDO ORA DE “SEUS CRIMES”, ORA DE “SUA VITIMIZAÇÃO” CONTINUA POUCO ESCLARECIDO.

No filme, A ÓTICA TRADICIONAL NÃO É DESAFIADA APENAS PELO TÍTULO; o olhar de Bruno S. (o ator que interpreta Kaspar) SUBVERTE o ATO DE OLHAR; assim como o olhar de Kaspar ESTÁ LÁ PLANTADO ATÔNITO, NUM “MUNDO ESTRANHO”, ONDE “TUDO É NOVO”, SEU OLHAR PERPLEXO, fixo diante das pessoas, das ruas, da paisagem, nos conduz ao mesmo estranhamento: tudo se torna paradoxalmente familiar e assustador (“vivo e morto”, efêmero, metaforicamente); sem dúvida são exibidos como compulsoriamente NOVOS:

“... as dimensões, o movimento, a lógica, a perspectiva, o pensamento, a fala, o riso”... (lembra, em seu livro sobre o olhar de Kaspar, Isidoro Blikstein;1995, p.12).

ÓTICA TRADICIONAL: A ótica onde o SENSO COMUM impera, e a SINGULARIDADE é mantida "seqüestrada" por ele.

Como se não bastasse, precisamos arcar com outra informação perturbadora: Bruno S., o “ator”, tem uma história semelhante a Kaspar; não sabe sua origem, e foi “descoberto” por Herzog num hospital...

O cineasta decide “retirar o crachá de estranho” de Bruno S., talvez para colocá - lo em nós, em nossos olhos, em nosso olhar: o estranhamento poético e salutar da Arte, que perturba mas obriga a renovar, que ARREBATA até à inevitabilidade da renovação.

ESSE arrebatamento, na minha IMENSA ignorância (caipira-que-ela-só) é prioritário a quaisquer questões partidárias, e - hoje em dia - a questões ditas (duvidosamente) “nacionalistas”.

De “nacionalista” a “populista” ou fascista, é um pulo! Um espirro!...

Já que toquei no assunto, lembro que - preocupado também com equívocos que costumam acontecer na fronteira entre Arte e Cultura no Brasil - Ronaldo Brito (2002), referindo-se ao movimento neoconcreto, assinala que:

...”a questão se desloca para o modo de sua recepção, sua incorporação ao nosso laboratório cultural cotidiano. Meu receio é que lhe esteja sendo reservado, se não já efetivamente preparado, o mesmo destino ingrato que costuma perseguir nossas obras modernas tornadas célebres: de pronto, transformam - se em Imagens Cívicas, como a compensar nossa cidadania incipiente. Rápida, quase automaticamente, sublimamos a arte em cultura, a cultura em civismo. Razões históricas para tanto é que não faltam, obviamente. Por isso mesmo, quero crer, nosso instinto crítico deve ficar sempre esperto e, também ele, partir rápido ao contra - ataque, fazendo a experiência direta das obras”... (Brito, R.; 1999 / 2002, p. 7.)

Instinto crítico esperto, ou aguçado, se constrói com Educação (que deveria ser oferecida sistematicamente TAMBÉM À SENSIBILIDADE DE QUALQUER INDIVÍDUO EM FORMAÇÃO), comprando a briga contra a evidência da maioria ser sistematicamente excluída das "fomes" de Saber e do Belo; da...

”-Você tem fome de quê? “...

... que nossos (bárbaros?) roqueiros locais gritam (o grupo Os Titãs), lembrando que a barbárie só aparece quando há excessos na cultura..

Alto lá!

Estar envolvido na Industria Cultural NÃO é necessariamente sinônimo de ser “burro” ou desinformado... Quanto melhor o senso crítico, melhor a gente descobre como ir dando "nome aos bois".

EXCESSO DE FALTA, OU DE CARÊNCIA (de Saber, de Belo), AINDA ASSIM É EXCESSO; resultado: barbárie (da perigosa) germinando.

.. ”As formigas da Alemanha comem o mesmo que as formigas da Itália, mas os homens comem coisas diferentes em cada parte do mundo”... (Labbé, B. e Puech, M.; 2002, p. 14).

A partir da educação, DEMOCRATIZADO o tal instinto crítico aguçado (o que não tem nada a ver com torná-la medíocre pintando-a com cores nacional-populistas) seria “dada passagem” à(s) FALA(s) dos inúmeros universos culturais, como também se permitiria o arejamento do diálogo entre os segmentos hipercomplexamente co - existentes na CULTURA: a(s) fala(s) dos diferentes grupos étnicos, religiosos, sexuais/de gênero, econômicos, etc., contidos nela; populismos só funcionariam bem com as formigas acima!

Cultura suficientemente HIPERCOMPLEXA PARA ABRIGAR - INCLUSIVE - QUESTÕES DE UNIVERSOS ÍNTIMOS E PÚBLICOS.

Amanhã descobrirei se reflexões ainda arrebatam alguém...

Ilustração: Roy Lichtenstein - Sweet dreams, Baby! -

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