sexta-feira, 27 de junho de 2008

ÀS VEZES SILÊNCIO É OURO; ÀS VEZES É OURO-DE-TOLO...


Ando muito “assustada” com o “silêncio ambiente” sobre qualquer coisa que - com ou sem motivo - possa ser chamada de “SÉRIA”.


Inclusive muitos amigos queridos, inteligentes e cultos, com IDENTIDADES nítidas e ricas, andam curiosamente “silenciosos”.


É como se falar de qualquer coisa um pouquinho mais “densa” corresse o risco de se tornar um “papo chato”.


Alguns silenciam porque não tem mesmo o que dizer, outros por temores sociais (“Não quero ser o chato da noite”), outros mesmo por (inoportuna?) elegância ("Não vou incomodar as pessoas com assuntos que elas 'não gostam'”); entre outras situações e motivos, todos da “mesma farinha”.


Isso, além de me preocupar hor-ro-res, me deixa bastante “solitária”.


NA-DA contra uma boa e divertida dose de frivolidade-inteligente (que pode ser densíssima).

NA-DA contra humor e o senso crítico desenvolvidos através da ironia (frequentemente mais densos que a Tragédia).


Tudo contra não nos responsabilizarmos TODOS, JÁ, pelo risco de “emburrecimento do mundo”. Quem não exercita o pensamento, não exercita a reflexão, único caminho seguro para a AUTONOMIA.

Não me refiro a nada livresco; falo de PENSAR-REFLETIR-FALAR como exercício humano. Curiosamente, a "fome do livresco" acaba aparecendo como conseqüência... Porque não? Que bom! Que cresça e apareça! Meu próprio português não é nenhuma perfeição, longe disso. Não ter o espaço que gostaria para exercitar o compartilhamento do pensar é que é assustador!...


Tudo contra o risco de compartilhamento de singularidades, busca de profundidade, ou “culto a cultura” serem tratados como “coisas chatas e elitistas a serem evitadas, e mesmo combatidas”...


Tenho certeza de que muita gente vai torcer o nariz para esse “arremedo de” BLOG (até agora não sei se “é assim que se faz um”), já que um dos grandes problemas a alimentar esse tal (aparente?) silêncio (e emburrecimento) é a tendência a “acreditar que há um suposto jeito certo de se fazer as coisas” (daí a multiplicação de odiosos Manuais disso e daquilo).


Outro pavor desse ser antiquado que pareço ter me tornado: parece que a SINGULARIDADE caiu em desuso...

Para uma descendente da Emília Lobatiana, isso corresponde a passar a se sentir uma quase-múmia que, o máximo que consegue, é assombrar muita gente... BUUUU!...


Por isso, ao ler em algum lugar que “Blogs são uma espécie de diário-de-bordo pós-moderno”, me apresso (numa patética tentativa de seduzir silenciosos e desejosos de recuperar a fala) a dar uma carinha “disso” ao material aqui visível, pelo menos no dia de hoje.


Mesmo assim, termino com algumas perguntas, acreditando que ALGUÉM, em algum momento, vai se dar ao trabalho de entrar neste internético sítio:


O QUE VOCÊ TEM FEITO COM SUA PRÓPRIA SINGULARIDADE EM TEMPOS DE MANUAIS E PADRÕES-DE-(suposta)-QUALIDADE?


O QUE VOCÊ TEM FEITO COM SEUS ASSUNTOS, COM SUAS QUESTÕES, UM POUQUINHO MAIS DENSOS(as)?


COM RELAÇÃO A ISSO VOCÊ AINDA TEM COM QUEM FALAR SEM QUE TE OLHEM COM MEDO DE “CHATURA-IMPLÍCITA”?


Vai que um dia alguém responde, não é?...


Ilustração: Henri Matisse - Dance

3 comentários:

Anônimo disse...

Bravo Cristina! Como torcer o nariz para esse espaço criado por você, nesse momento, pautado por grandes transformações nas novas tecnologias de comunicação e informação e da grande revolução por elas promovidas?

Sucesso em sua nova empreitada.

Beijo,

Fernanda Dobbin

Anônimo disse...

Amiga Cristina,
Direta no ponto muito bem colocado por você: Que m... é essa que de repente parece que ninguém tem mais nada a dizer, nada a ser critiado? O Brasil está perfeito, ou o quê???? E enquanto esse silêncio se faz, a canalhice come solta, e de uma maneira, ao menos me parece, nunca antes TÂO descarada!
Você tem razão: dá medo!
Bravo para o seu blog! Oportunissimo!
Fôlego aí!
Beijos

André disse...

O QUE VOCÊ TEM FEITO COM SUA PRÓPRIA SINGULARIDADE EM TEMPOS DE MANUAIS E PADRÕES-DE-(suposta)-QUALIDADE?

>> Em geral, procurando me conduzir de modo natural e fluido, agindo do modo que eu considero o mais adequado (tudo pesado, inclusive as visões dos outros), e os manuais que se adaptem ao saldo disso ou me expulsem. Eu pago o preço.

O QUE VOCÊ TEM FEITO COM SEUS ASSUNTOS, COM SUAS QUESTÕES, UM POUQUINHO MAIS DENSOS(as)?

>> Conversando com um-dois gatos pingados; monologando a dois com alguns que no fundo não entendem do que estou falando (confesso que oscilo entre o "não dar pérolas aos porcos" e o "sê tudo em cada coisa"); e procurando livros de autores que me façam sentido.

Agora achei um amigo nerd, 23 anos, rigorosamente inteligente e analítico — profundamente analítico —, ótimo coração. Me apresentou ótimas literaturas.


COM RELAÇÃO A ISSO VOCÊ AINDA TEM COM QUEM FALAR SEM QUE TE OLHEM COM MEDO DE "CHATURA-IMPLÍCITA"?

>> Reduzi a um quinto meu latim com grande parte. E apesar de profundo estudioso do tema egoísmo/altruísmo, nas mais diversas ópticas, ainda não descobri em qual dos dois pólos essa redução melhor se classificaria. Acho que depende do quanto eu estimo minhas reflexões. Se geniais, então é egoísta não compartilhar. Se chato, foi um favor. Como em geral me regozijo sozinho e as considero geniais, então definitivamente sou um egoísta, hahaha!