segunda-feira, 9 de maio de 2011

Antropólogos e outros ólogos podiam pensar em Ética antes de pensar (sem teor crítico) em Tradição!


Tradição por Tradição, a Ética (e a 'Lei de Ouro') é (são) mais 'antiga'(s) e vem(vêm) primeiro! O direito da Tradição pára quando esbarra na fronteira da Ética, da integridade do Outro!

PALMAS PARA OS MENINOS! (Leia e vai entender porque digo isso).

HOJE, NA 'FOLHATEEN' Do Folha de SP encontrei o seguinte artigo:

Mais Twitter, menos tradição

COM VIAGENS E INTERNET, JOVENS ÍNDIOS AGORA QUESTIONAM OS DOLOROSOS RITOS DAS SUAS TRIBOS

CARLOS MINUANO, em COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO XINGU

A maioria dos índios adolescentes esperneia e chora. Serão tatuados à força no rosto com espinhos. Os jovens ikpengs do Xingu, que conhecem a cidade e gostam do Facebook, sabem que há lugares em que isso não existe.

Não há, claro, anestesia. Tudo acontece a seco. Trata-se de apenas um dos rituais dolorosos de iniciação na vida adulta que os jovens índios agora questionam.

Também no Xingu, há meninas que ficam mais de um ano reclusas ao menstruar pela primeira vez. Um pouco mais longe, no Amazonas, meninos enfiam a mão em luvas repletas de formigas venenosas (veja na pág. 8).

Mutuá, 13, é um dos que passaram pela tatuagem e reclamam. "Judiaram de mim, e eu era pesado para que me segurassem" -no caso dos ikpengs, em geral os índios são surpreendidos quando ainda estão dormindo.

O ritual continua acontecendo, queiram os jovens ou não. "Na minha vez eu também não queria, mas quando te pegam não tem como fugir", admite uma das lideranças da tribo, Kumaré Ikpeng.

No Xingu, onde Kumaré vive, o mundo não indígena, porém, está cada vez mais presente -e o impacto é mais forte entre os adolescentes.

Por todo lado, por exemplo, há laptops e celulares. "Além disso, os homens têm muito contato com o mundo, viajam, estudam, muitos trabalham para a Funai", diz Sofia Madeira, antropóloga e doutoranda pela Unifesp.

"Alguns meninos não entendem a razão dos rituais, alguns se negam. Falam "ah, na cidade não faz isso, né?". O jovem vê o mundo na internet e o sonho dele se transforma, ele quer carro, Twitter, namorar uma branca."

Para Madeira e para Sofia Mendonça, médica-antropóloga do projeto Xingu (Unifesp), o fenômeno preocupa, porém. "O fascínio pelo modo de vida que esses adolescentes encontram na cidade ao saírem para estudar é uma ameaça", diz Mendonça.

"Diferentemente dos mais velhos, estão em um momento de construção da personalidade, vulneráveis." Isso reforça a importância do rito de passagem, argumenta.

"Ele protege o jovem, auxilia nessa mudança de papel social. Nós, não indígenas, perdemos a noção da importância dos rituais de passagem, por isso tantos adultos seguem na adolescência."

Ritos da aldeia

ALGUNS DOS RITUAIS QUE OS JOVENS INDÍGENAS BRASILEIROS PRECISAM ENCARAR

RECLUSÃO

Isolamento por mais de um ano após a primeira menstruação, sem cortar o cabelo e com alimentação limitada. Exemplo: meninas kamayurás

ESPINHOS

Tatuagens na face, a seco, com espinho de tucumã e resina de jatobá, com direito a retoques posteriores. Exemplo: meninos ikpengs

FORMIGAS

Usar várias vezes luvas repletas de formigas venenosas encravadas na palha, com ferrões para dentro. Exemplo: meninos sateré-maués

"O fim desses rituais seria uma perda enorme"

A antropóloga Sofia Madeira estudou, no Xingu, a reclusão de meninas kamayurás após a primeira menstruação. Elas ficam mais de um ano num cômodo escuro, sem ver homens e com uma dieta mais pobre.

Ela considera, porém, os rituais importantes. "Eles não acontecem só para a menina, mas em comunhão com o que aquela sociedade quer. Seria um perda enorme se eles não existissem."

"É claro que às vezes as meninas ficam tristes, pois ouvem o barulho das outras correndo lá fora. Mas, nesse período, elas conversam com as mais velhas, aprendem como é a relação sexual, a fazer artesanatos, têm tempo para refletir."

Meninos indígenas são mais questionadores que as meninas

Se os meninos indígenas tentam fugir do rituais e ficam perguntando por que na cidade é diferente, as meninas questionam menos.

Os antropólogos e visitantes que vão ao Parque Indígena do Xingu, por exemplo, relatam que é bem mais fácil estabelecer contato com homens do que com as mulheres, sempre mais reclusas.

"As meninas mais novas nem falam bem o português. Quando elas vão para a cidade, ao médico, estão sempre acompanhadas de um homem", diz a antropóloga Sofia Madeira, da Unifesp.

"Os meninos todos têm Twitter, Facebook, usam internet nos postos de atendimento de saúde. As meninas não são assim, seus sonhos são mais limitados. No sentido bom inclusive, porque elas perpetuam a cultura. O uso de álcool e drogas, por exemplo, é sempre majoritariamente masculino."

Além disso, diz Madeira, as mulheres "não têm muito tempo para ficarem divagando sobre a vida". "A mulherada trabalha dia e noite sem parar. Precisa manter o fogo aceso, trazer água limpa, fazer comida, descascar mandioca, capinar, cuidar de bebê. Na aldeia, você vê homens deitados na rede. Mulher você nunca vê."

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Para quem se interessar pelo assunto, e quiser entender ainda melhor alguns porquês de meu olhar crítico, recomendo a leitura de: Badinter, E.; XY Sobre a Identidade Masculina,Editora Nova Fronteira, 1993.

ILUSTRAÇÃO: O BEIJO, inscrição rupestre da Serra da Capivara - PI / Brasil.




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