sábado, 9 de julho de 2011

DIANTE DOS FATOS, não somos, mas 'ESTAMOS VADIAS'!


Dia 2 de julho aconteceu no RJ a versão carioca da ‘Marcha das Vadias’, e vi muitas mulheres - que visivelmente não acompanharam os fatos que deflagraram e continuaram a incentivar sua organização e multiplicação pelas várias cidades do mundo, do Brasil – se manifestando com curiosa ‘indignação’ diante da realização dela, se sentindo ‘ofendidas’, rejeitando o emprego do bem-humorado termo ‘vadia’, usando-o como argumentação contrária à Marcha, alegando ‘old fashions machismos’ e outros ‘quetais’.

Embora essa atitude 'desinformadamente precipitada', e mal-humorada, delas tenha me dado um certo ‘cansaço’, tentei explicar a algumas o que acontecia e contra argumentar; é um resumo dos fragmentos disso que reproduzo aqui:

“Em primeiro lugar, vamos 'descobrir' - (já que tantas não compreenderam o sub-texto) - que eu e você não 'somos' vadias (profissionais), mas 'estamos' vadias, SIM, por uma meia dúzia de equívocos com os quais o senso comum nos aborda, ataca, fere frequentemente no cotidiano!

As questões de Gênero ainda estão muito 'a pé' para o meu gosto, e se ao menos os atingidos pela violência de seu pouco debate não botassem a boca no trombone (sem duplo sentido, juro), não teríamos sequer a Lei Maria da Penha, que não é o ideal (deveria haver no mínimo a ‘Lei Mário do Penho’, também), entre outras coisas da mesma importância que andam a passos de 'formiga preguiçosa'.

Já dizia Hannah Arendt: "Só a violência é muda". Da mesma forma, há silenciamentos que são pura violência, ou - no mínimo - o ôvo da serpente-violência.

Essa coisa de considerar Gênero como 'questão menor' já foi debatida pela esquerda exilada, em Paris, em 1978 (se não me engano o ano); a inclusão de fenômenos íntimos no debate político foi uma conquista duríssima, suada, e não deveríamos retroceder a ela.

O tempo em que o 'hippie' (para resumir todo um contexto identitário) era considerado 'menos revolucionário' que o 'guerrilheiro armado' (resumindo, IDEM!) felizmente já virou filme de época.

É p’rá frente que se pode autonomamente andar, para (no mínimo) pensarmos em tentativas de benefício futuro dos nossos descendentes!

Andar para trás, só vale a pena para reflexões (RE! Atenção ao RE!); pode ser desenvolvido por leituras (de livros, de Arte, de sonhos, de memórias, etc).

A maioria da violência vem de pessoas conhecidas, próximas, e não é dirigida às prostitutas profissionais. Nada contra as profissionais; pelo contrário! Adoro a Gabriela Silva Leite que tem um trabalho belíssimo, e tenho amigas (pobres e não tão pobres) que já viveram disso; meu leque de amizades (até por questões profissionais) é mega amplo, o menos excludente possível. Só excluo do meu círculo de amizades burrice em excesso e truculência, e por mesmo assim por mera sobrevivência.

Como dizia Herbert Daniel: "Não há democracia se ela acaba na hora de ir para a cama..."

Viver é Político/social; Intimidade é Político/social... Se não o debatemos, 'zilhões' de questões ficam igualmente excluídas; logo muuuuuita gente (e suas respectivas questões) fica(m) excluída(s)!

O que é recalcado por nós, volta para nós mesmos, nos atacando; meu avô Freud já o lembrava. Se a gente exclui a importância do debate desses ingredientes íntimos, o silêncio (sobre o recalcado) VOLTA na forma de MAIS violência...e mais burrice, claro.

Circunspecção demais acaba 'batendo um bolão' com o Patriarcalismo que provoca toda essa grosseria diária. O Patriarcalismo tem horror de riso, de humor, de 'brincar de'. Eu 'brinco de' o que eu quiser, e morro de rir; graças aos bons deuses!

A circunspecção eu deixo para os tiranos e os corruptos; já repararam como eles 'são' sérios, circunspetos?...

Não acredito em 'impecáveis'; é o pecado que me torna humana!...(e bem humorada /brincalhona, claro)...

Quando vocês que criticam o que se multiplica por aí com o nome de ‘Marcha das Vadias’ investigarem a história, vão descobrir que ela começou no Canadá numa mega legítima resposta ao atendimento policial/jurídico das mulheres estupradas. Aqui já houve em diversas capitais; não sei como no RJ demorou tanto!...

O Bispo de Guarulhos, aqui no BR, ajudou recentemente a botar lenha na fogueira do deflagrar de nossas próprias marchas, com a indignidade que cometeu no próprio púlpito... Se investigarem, vão gritar comigo: - ‘Horror, horror!’, com - aí SIM - um bom motivo para ficar 'indignada' e/ou 'ofendida' ... (Esse Bispo é super circunspeto também, aliás!...). Investiguem antes de criticar.

Já você aí, que criticou o fato de algumas mulheres terem exibido os peitos na Marcha (há que TER PEITO para fazê-lo!), informo você que os peitos foram mostrados por dois motivos especiais e igualmente legítimos:

1- A confusão com as mulheres que foram repreendidas por amamentar em público recentemente e também foi notícia (lembra?)

2- Para que as pessoas se manifestassem performaticamente; foi um ousado toque estético e - óbvio - bem humorado; TAMBÉM tem que 'ter peito' para dar valor ao humor!...

Repito mais uma vez que aprendi com Camila Amado que:

A- a Tragédia é nobre, já que trata dos mesmos temas que a Filosofia;

B- que o Drama é 'meio bobinho', já que trata apenas do nosso dia a dia prosaico e desprentecioso;

C- Que a Comédia, SIM, é SUBLIME, já que trata dos mesmos temas que a Filosofia, e ainda consegue desenvolver o senso crítico sobre eles, já que nos obriga a rirmos de nós mesmos... !”

Ilustração: Foto da ‘Marcha’ carioca por João Sabóia.

8 comentários:

nostodoslemos disse...

Excelente!

Beijo!

CHRISTINA MONTENEGRO disse...

Merci, Ligia! BEIJOS!

Várias Anas disse...

Sempre ótimo!

Jaime Guimarães disse...

Sempre tem aqueles e aquelas que vão às manifestações (agora chamadas de "marcha") mais pela "farra" e desconhecem o sentido das mesmas. Bom, ao menos lá foram informadas - espero! - do que se tratava.

Há violências simbólicas e manifestações simbólicas também. O ato de algumas mulheres mostrarem o peito foi um desses simbolismos justamente naquele momento em que houve a polêmica da amamentação em público - não me lembro bem, mas parece que o CQC ou o Marcelo Tas fizeram uma piada sobre amamentação e a coisa toda virou assunto até bem discutido.

Bjss!

CHRISTINA MONTENEGRO disse...

Poliana e Jaime, BEIJOS! Continuem aparecendo!

Anônimo disse...

Olá adorei seu Blog, e já me tornei seguidor.
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Obrigada e Sucesso

CHRISTINA MONTENEGRO disse...

Recomendo também a leitura da matéria da Revista TPM sobre o assunto: http://revistatpm.uol.com.br/revista/111/reportagens/vadia-eu.html

tiago disse...

O que não gostei dessa Marcha das Vadias é que ela teve um foco quase que exclusivamente direcionado a violência masculina. ignorou-se o fato de que centenas, milhares de mulheres estão se colocando VOLUNTÁRIAMENTE em uma posição de objeto sexual nas propagandas de cerveja, nos programas de humor da televisão aberta, nas novelas, nas bandinhas de pagode e funk, nas revistas de fofoca, e elas reforçam todos os clichês da mulher como mero objeto sexual. E não adianta empurrar essa para os homens porque a grande maioria dessas fazem esse tipo de papel porque querem fazer sucesso, ainda de maneira deturpada e nociva ao processo de emancipação do feminino como um elemento de sensualidade bem-vindo e natural.