terça-feira, 20 de março de 2012

Os caminhos que começam numa postagem de Facebook...


Como já sabem, esse Sr. não é o meu articulista predileto, mas respeito, e reverencio seu saber lendo-o mesmo assim sempre que posso ou me chama a atenção como hoje.
O texto é muuuuito interessante, (parece até que ele leu meu livro também! rsrsrsrs).


Discordo apenas em um ponto: NÃO, não são "as mulheres" que temem a manifestação da subjetividade dos homens; é o CALDO CULTURAL PATRIARCALISTA/
PATRIMONIALISTA, que embebeda homens, mulheres, e até muita gente da turminha LGBTTs...

Porque? Como? Ah, aí me perdoe: leia meu livro, uái!...
(Ilustra uma tira do Laerte beeeeem oportuna, como sempre...).

Abaixo do texto do Pondé, acrescento os comentários que surgiram no Facebook a partir dele; que tal acrescentar os seus?...


"A síndrome de Schmidt" - Luiz Felipe Pondé /FdSP

"Não, não se trata de uma doença nova, caro leitor. Apenas de um filme cujo título é "As Confissões de Schmidt", do diretor Alexander Payne, o mesmo de "Os Descendentes", que concorreu ao Oscar neste ano, mas muito melhor do que esse.

Para começar, Schmidt é Jack Nicholson, o que já garante metade do filme. Mas o filme vai muito
além desse grande ator.

Síndrome de Schmidt, nome que eu inventei, descreve o quadro de total melancolia em que se encontra o personagem central, um homem de 60 anos, após a aposentadoria e morte repentina da sua mulher. Mas qual é o diagnóstico diferencial com relação a outras formas de melancolia? Vejamos.

O filme abre com um discurso de um colega em sua homenagem, quando Schmidt se aposenta da companhia de seguros em que trabalhou a vida inteira (no caso, companhia de seguros carrega todo o peso de viver para ter uma vida segura).

Logo após a morte da sua mulher, ele descobrirá que ela fora amante do colega que discursou em sua homenagem em sua cerimônia de despedida da "firma". A cena da descoberta é feita com requintes de crueldade, porque Schmidt está imerso nas roupas da mulher morta, buscando sentir seu "doce aroma" e assim matar a saudade que sente dela.

Schmidt tem uma filha que casará com um sujeito horroroso, de uma família brega que se julga especial: você conhece coisa pior do que festa de Natal em família? Sim: uma festa de Natal em família em que os presentes são frutos da criatividade ridícula dessa família, como no caso da família do genro de Schmidt.

Schmidt fazia xixi sentado como menina porque sua mulher o proibia de fazer xixi como menino, a fim de não sujar o banheiro.

Esse é sintoma diferencial da síndrome de Schmidt: esmagar-se (mesmo sua fisiologia) para deixar tudo em seu lugar, sem conflitos, amar a paz e o bom convívio em detrimento de si mesmo. No caso
específico, não há "questão de gênero" (já que banheiros estão na moda nesse assunto, vale salientar que aqui não é o caso).

Primeiro porque eu não acredito em questões de gênero, só em questões de sexo. Depois, porque não se trata de falarmos em homens vítimas da opressão feminina (ainda que se trate de alguma "opressão" nesse caso, já que, afinal, sua mulher o obrigava a fazer xixi como menina e o traiu), mas sim de falarmos de alguém que descobre que sua vida foi e é vazia, apesar de ter sido um pai e esposo dedicado, e não um desses canalhas que saem com mulheres fáceis por aí.

A síndrome de Schmidt pode e afeta também mulheres, portanto não é uma questão do sexo masculino. Mas no filme é uma questão masculina (o sexo masculino "suja banheiros") e o é antes de tudo porque, como se sabe, homens trabalham, às vezes até brincam com os filhos, mas são as mulheres que detêm o monopólio da subjetividade e da sensibilidade.

Mulheres "conhecem a si mesmas", homens não. Schmidt é uma caricatura do homem que acreditou que, cumprindo seu papel, estaria a salvo da devastação da falta de sentido da vida e do amor. Apesar das modinhas, as mulheres temem a subjetividade masculina como o diabo teme a cruz.

Homens não sabem falar de si mesmos. E, no fundo, é melhor que continuem assim (pensam as mulheres e os filhos): vivendo como Schmidt, no silêncio da função paterna e marital. Isso muitas vezes é objeto de piadas nas quais homens são comparados a carroças, enquanto mulheres são comparadas a grandes jatos.

Na realidade, a vida comum das famílias supõe que os homens continuem a trabalhar sem crises existenciais; qualquer coisa que se diga ao contrário disso é mais uma mentira da moda.

Isso não significa que não existam exceções, mas essas são apenas exceções. Homens com crises existenciais ficam sozinhos.

No caso de Schmidt, tudo que sua filha quer é seu cheque, e não sua presença. O filme é bom o bastante para mostrar que talvez nessas famílias "normais" não haja mesmo possibilidade de grandes relações entre pais e filhos, muito menos entre pai e filhos.

Talvez esse venha a ser um dos debates do século 21: o que fazer quando os homens começarem a falar."

Comecemos com os comentários que apareceram no Facebook:

  • Ricardo Simoes de Carvalho È tudo começou com a Eva. Assim que achou um dildo (a serpente), a sacanagem começou. KKKKKK

  • Ana Soubihe Julio Acho que toda generalidade é burra, mesmo.

  • Silvia Klein Mas de que mulheres esse cara costuma se cercar?!

  • Christina Montenegro Ricardo, sacanagem é moleza de rolar; o erotismo conseguiu liberdades inimagináveis até bem pouco tempo atrás; a tal da 'DR' é que é difícil (e a primeira delas é do indivíduo com ele mesmo - sem essa a dele com o Outro não é aprendida)... Mas acredito que essa dificuldade não é necessariamente um 'privilégio torto' do contingente masculino; as mulheres (e LGBTTs) patriarcalistas/patrimonialistas abundam; pertencer a essa ou àquela categoria de Gênero não torna ninguém 'santificado' ou 'curado' das humanas dificuldades.
    Ana Soubihe Julio , acho que há um enredamento temático em jogo no tema que o filósofo acima curiosamente (ou convenientemente?) não 'pescou'.
    Silvia Klein querida, vai ver que é por isso que ele não é nosso amigo ou conhecido pessoalmente por nós... rsrsrsrsrsrsrs.... Beijos a todos!

  • Ricardo Simoes de Carvalho Christina, sacanagem à parte, (extremamente difícil para um carioca alienígena como eu) tens tôda razão. O problema é que meu lado feminino tem sempre que dar uma de "queridinha, aqui vai uma alfinetada". Bjssss
    Ontem às 14:44 ·

  • Laerte Coutinho Moscou não acredita em lágrimas e Pondé não acredita em questões de gênero - só em questões de sexo. Por isso não sabemos de onde ele acha que virá o momento iluminado quando os homens vão finalmente encarar sua subjetividade.

  • Christina Montenegro Curioso, não, Laerte Coutinho ? seria quase como ele dizer 'que acredita em Questões de Filosofia, mas não acredita em Questões do Espírito Humano... Exagerei?... Adorei a pergunta que fez Silvia Klein, e a ironia de Letícia Lanz lá na página do livro... rsrsrsrs Beijos!

  • Laerte Coutinho Acho que o pondé é um filósofo auto-imune.
    Beijo!

  • Letícia Lanz Puxa! Deve ser mesmo o fim dos tempos que se aproxima... A arrogância em pessoa "pedindo penico"? Ou será apenas ressaca de 2a. feira? Por enquanto, fico com a 2a. hipótese. A propósito, será que ele já se dignou a ler o seu livro? Ajudaria bastante, no mínimo para aliviar a bebedeira do fim de semana e o porre da segunda...

Agora, comentem vocês que passaram por aqui...

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